Por intermédio do voto do Presidente do Tribunal, na Suprema Corte de Newgarth, o caso dos exploradores de cavernas se resume ao que se segue: Em maio do ano 4299, cinco espeleólogos que ficaram presos no interior de uma caverna, depois de um grande desmoronamento. No 20º dia, foi descoberto que uma máquina sem fio, capaz de enviar e receber mensagens, foi levada para dentro da caverno. A primeira informação trocada foi de que seriam necessários mais 10 dias de trabalho para o resgate. A segunda foi da equipe médica, que assegurou que não havia possibilidade de os cincos sobreviverem nesse tempo. Um dos espeleólogos, chamado Whetmore, falou em nome dos outros. Ele perguntou ao médico se teriam condições de sobreviver consumindo a carne do corpo de um deles. Com relutência, a resposta foi afirmativa. Whetmore perguntou se seria aconselhável para eles tirarem a sorte para determinar qual deles serua usado de alimento. Não houve resposta. Whetmore solicitou um juiz, que não apareceu. Solicitou um padre ou pastor, também sem resposta. A comunicação foi interrompida a partir desse momento. Pensou-se erroneamente que a bateria da máquina havia descarregado. Para resgatá-los, ocorreu outro desmoronamento que matou 10 trabalhadores. Quando, finalmente, quatros exploradores foram encontrados vivos, soube-se que Whetmore fora morto no 23º de isolamento. Depois de completada a convalescença no hospital, onde foram tratados por desnutrição e choque, os quatro foram indiciados pelo assassinato de Roger Whetmore. Segundo eles, Whetmore propusera que se usasse algum método para tirar a sorte, apresentando um par de dados. Os demais concordaram com o plano. Antes do arremesso dos dados, Whetmore desistiu do acordo, querendo aguardar mais uma semana antes de colocar em prática a antropofagia salvadora. Os outros exploradores acusaram Whetmore de romper o trato e continuaram arremessando os dados. Na vez de Whetmore, perguntaram a ele se se opunha a que outro realizasse o lance e, diante de nenhuma objeção, a sorte foi contrário a Whetmore. O júri condenou os réus, e o juiz sentenciou que eles deveriam ser enforcados. O processo subiu para a Suprema Corte, em que cinco juízes votam, condenando ou absolvendo os réus.
O caso é fictício, serve para motivar o debate entre estudantes de direito, seguindo as diferentes filosofias do Direito.
Vejo uma incoerência no caso, que foge à realidade. Um dos juízes quase a expressa em seu julgamento.
Apenas na ficção seria possível que os quatro exploradores resgatados relatassem que Whetmore, depois de propor aos demais que se lançasse os dados, se negasse a fazê-lo, concordando ao mesmo tempo que outro o fizesse por ele. O rompimento do acordo e a permissão que lançassem os dados por ele são contraditórios.
Eis o último parágrafo do livro:
"A Suprema Corte, estando igualmente dividida, a convicção e a sentença do Tribunal de Apelação foi mantida. E foi ordenado que a execução da sentença deveria ocorrer às 6:00 horas da manhã de sexta-feira, 2 de abril de 4300, quando o Carrasco foi intimado a proceder ao enforcamento dos réus pelo pescoço até as suas mortes".
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