sexta-feira, 15 de junho de 2012

PARALELO

Machado de Assis dialoga amiúde com o leitor, usando e abusando da metalinguagem e da epilinguagem. Em Dom Casmurro, por exemplo, "agora que expliquei o título, passo a escrever o livro", "a vida é uma ópera" (em que dedica um capítulo para explicar o enunciado), "eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini" e por aí vai. Tal interferência do narrador é uma coisa chata em Machado.
Houellebecq é machadiano nesse aspecto. A grande sacada de seu O mapa e o território é fazer de Houellebecq um personagem. O romance ganhou o Goncourt em 2010, prêmio literário mais importante da França. Mas, porém, contudo, todavia... Sobre a câmera fotográfica de Jed Martin: "... adquiriu uma Betterlight 6000-HS, que permite capturar  imagens de 48 bits em RGB, com uma resolução de 6.000 x 8.000 pixels". Sobre a Musca domestica, encontrada em volta do cadáver de Houellebecq, Houellebecq escreve uma enciclopédia, com os últimos conhecimentos sobre o inseto. Nos agradecimentos, o autor refere-se à Wikipedia, "cujos verbetes às vezes utilizei como fonte de inspiração". 
(Li 150 páginas ontem e hoje, concluindo a leitura do romance.)

Nenhum comentário: