Uma matéria publicada na Veja desta semana, de autoria de Renata Betti e Roberta de Abreu Lima, acerta em cheio com a crítica aos livros (anti)didáticos adotados pelo Ministério da Educação. Pela primeira vez, alguém teve coragem de fazer uma abordagem genealógica da questão, citando aquele que deu origem a todos os mal-entendidos da linguística tupiniquim: Marcos Bagno. Para as autoras da matéria, esse professor da Universidade de Brasília é "o grande madraçal da ortodoxia" de uma estupidez, qual seja, de atacar o padrão culto da nossa tão vilipendiada Língua Portuguesa, como se o falar e o escrever bem constituísse um "instrumento de dominação da elite". Velho discurso de influência marxista que predomina nas universidades do país. O ex-presidente Lula da Silva e todos os seus correligionários mais chegados que enriquecem da noite para o dia pertencem à qual classe social? Eles não são "elite"? Qual é a "variedade linguística" do ex-presidente? A popular, com todos os erros de ortoépia, de concordância etc. Nessa variação, "problema" é "poblema", "pobrema" ou "probrema"; "os meninos pegam o peixe" é "os menino pega o peixe". Bagno denomina de "preconceito linguístico" dizer que é um erro o erro. Ora, ora! O aluno não está na escola para aprender a falar e a escrever com mais correção? O erro crasso de concordância, segundo a discípula de Bagno, Heloisa Ramos, que escreveu o livro Por uma vida melhor (aceito pelo MEC), não passa de uma variação linguística, que merece o mesmo respeito dado à variação culta. Na Universidade Regional Integrada, a professora de Sociolinguística tentou nos enfiar Marcos Bagno goela abaixo. Alguns colegas ficaram exultantes com a possibilidade de jogar no lixo a gramática (para desgosto justificado do professor Eugênio Gastaldo). Esse entusiasmo juvenil e anarquista parece ter chegado ao Ministério da Educação.
Um comentário:
Antes de mais nada, peco desculpas porque nao disponho de um teclado abnt2, e que isso me sirva de contra-argumento, afinal, sem alguns acentos e sinais, a leitura fica mais confusa!
(ou sera que o idioma tem regras demais?)
Fiz umas "visita" a aulas de linguistica enquanto cursava meu semestre unico de faculdade de letras. A professora de linguistica defendia a ideologia de Marcos Bagno, e essa nos era tambem ensinada.
Porem comento aqui com minhas ideias leigas sobre o assunto, afinal, muita gente nao aprende nada em quatro anos (seja na politica ou na faculdade), eu entao nao aprendi nada em meio.
Linguagem e um instrumento organico de comunicacao humana. Seja qual for o idioma, uma coisa e certa: a comunicacao verbal acompanha a evolucao e as necessidades humanas. Por consequencia, o vocabulario portugues e certamente mais rico hoje do que foi ha 100 anos atras.
O que quero colocar e que linguagem nao significa nada se nao for usada para uma comunicacao pratica, isso a despeito de obra literaria, poetica, e tal. Mas ainda, a arte imita a vida, e a obra literaria, poetica e tal de uma geracao/epoca vai refletir seus usos e costumes e o observador (artista) vai simplesmente captar e transmitir essas observacoes de acordo com a sua sensibilidade.
Mas agora pense: correta ou nao, a linguagem falada e geralmente muito mais rapida e direta, se adapta ao meio mais fluentemente, se disforma e transforma ilimitadamente e sofre alteracoes de acordo com o conteudo academico e cultural do falante a das suas necessidades. Enquanto que a regra, a gramatica, tem uma funcao estritamente estetica e objetiva de cristalizar as formas de comunicacao com o suposto intuito de que todo mundo consiga se expressar de uma maneira que "todos" consigam alcancar um compreendimento comum. Mas a gramatica nao supre as necessidades organicas do interlocutor/comunicador na maioria dos casos. A comunicacao verbal e dinamica e natural. Pode ser condicionada de acordo com regras estabelecidas atraves de um estudo intenso e intimo da mesma. Mas agora vou colocar um exemplo banal: uma amiga estudou literatura em uma excelente instituicao e aprendeu critica literaria. Ainda hoje ela se queixa de que nunca mais conseguiu ler um livro por prazer, espontaneamente e sem compromisso.
Deixo a pergunta: se a comunicacao informal for mais eficiente do que a formal, em um sentido geral, por que sacrificar essa eficiencia pelo "correto". Nao deveriamos nos brasileiros tambem retornar as raizes e adotar o padrao portugues (de portugal) para o idioma?
E na pratica, isso nao eh um tipo de segregacao tambem? Afinal, vestibular, por exemplo, nao mede a aptidao pratica do individuo para sua carreira de escolha, mas sim, o quanto o candidato domina "as regras" das "materias", sem necessariamente avaliar o seu potencial de criacao, desenvolvimento ideologico, questionamento e avaliacao critica do conteudo recebido. No fim do dia, o salario eh pago de acordo com o "nivel" de educacao ou com a quantidade pratica de trabalho?
Postar um comentário