quinta-feira, 7 de junho de 2012

VERDADE E ADEQUAÇÃO

O bispo auxiliar do Ordenariado Militar do Brasil, José Francisco Beltrão, esteve em Santiago nessa quarta-feira, para rezar uma missa na Igreja Matriz. Ontem foi celebrada a Páscoa dos Militares na guarnição, um evento religioso cuja extemporaneidade tem uma explicação muito simples: o soldado cristão em campanha, não podendo comemorar com os seus familiares a Páscoa no tempo certo, passou a comemorá-la após seu retorno. 
Com 18 anos, por ocasião da minha incorporação ao Exército, não entendi por que celebrar a Páscoa fora de sua data prefixada em tempo de paz. Nessa época já me perguntava muitas coisas (filosoficamente). O germe ou meme do ateísmo não se contentava com respostas prontas, fundamentadas no próprio mito.
Em sua homilia para explicar a origem da Páscoa, o bispo Beltrão falou meia hora em História Natural, Astronomia, Psicologia, Filosofia... Do que disse, anotei na minha caderneta o mais interessante: "o homem criou os deuses". Xenófanes já expressara essa verdade há dois milênios e meio. O bispo - que veio de Brasília para rezar com os militares católicos -, com essa verdade, argumentava sobre o politeísmo. No momento em que fazia a anotação, deixei de ouvi-lo explicar como o monoteísmo judaico, cristão e islâmico  significa o inverso: "deus criou os homens". A crença num deus único, diga-se de passagem, os judeus trouxeram do Egito. 
Qual a diferença entre "o homem criou deuses" e "o homem criou deus"? Por favor, leiam A essência do cristianismo de L. Feuerbach.
Pela primeira vez, com estes ouvidos que a terra há de, ouvi uma autoridade religiosa adequar a doutrina cristã à ciência, ao conhecimento. Um avanço extraordinário, considerando-se o milênio inquisitorial, ao longo do qual a ciência era considerada coisa do demônio. O bispo Beltrão associou, sem nenhum problema, o Big Bang ao "Faça-se a luz!" bíblico. Já escrevi sobre essa adequação. Vida extraterrestre, por exemplo. Mesmo que ela se comprove futuramente, após uma resistência inicial, os crentes saberão adequar sua fé ao fato novo.
A força da fé é inegável. Depois de resistir a Copérnico, aos absurdos da igreja e dos homens, a Darwin, a Nietzsche, a Freud, à genética... o que dizer dela?
Por que seria verdadeiro o deus dos judeus, dos cristãos e dos islâmicos? Falso todos os outros. Aliás, os cristãos não consideram verdadeiro o deus dos judeus e dos islâmicos, uma vez que consideram simples profetas Jesus Cristo (essa idealização de Paulo de Tarso). Nem Javéh nem Alá. Apenas o deus que se triparte em pai, filho e espírito santo.
Não gosto de parecer imodesto, mas o futuro confirmará isto: as sagradas religiões judaica, cristã e islâmica serão consideradas nada mais que mitologias. Apenas mitologias, que, por um tempo determinado, foram consideradas religiões verdadeiras em razão das práticas, dos ritos que as mantinham vivas.

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