Nietzsche nunca
foi citado antes com a frequência destes dias. Duas observações depreendem desse
modismo: o filósofo é mal interpretado cada vez mais; e seus citadores ignoram
a contradição em citá-lo à revelia.
Mais de 90% desses pretensos
nietzschianos são religiosos, cristãos em sua maioria, que deveriam evitar a
contundência da filosofia do martelo. Caso observassem a coerência, eles
citariam Platão, Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Duns Escoto, entre
outros.
Inobstante a liberdade de todo sujeito do
enunciado, que é inquestionável nestes dias, a citação de Nietzsche exige
honestidade intelectual, atributo que distingue os nietzschianos dos quatro
costados.
Nenhum cristão há de concordar com o
aforismo 15 de O Anticristo:
No
cristianismo, nem a moral nem a religião possuem qualquer ponto de contato com
a realidade. Apenas causas
imaginárias (“Deus”, “alma”, “eu”, “espírito”, o “livre-arbítrio” – ou o “não
livre”); apenas efeitos imaginários
(“pecado”, “salvação”, “graça”, “castigo”, “perdão dos pecados”). Uma relação
entre criaturas imaginárias (“Deus”,
“espírito”, “alma”); uma ciência natural
imaginária (antropocêntrica; carência completa da noção de causas); uma
psicologia imaginária (apenas mal-entendidos acerca de si mesmo, interpretações
de sensações gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, dos estados do nervus sympathicus, com a ajuda da
linguagem de sinais da idiossincrasia moral-religiosa – “arrependimento”,
“remorso”, “tentação do Demônio”, “proximidade de Deus”, uma teleologia
imaginária (“o reino de Deus”, “o Juízo Final”, “a vida eterna”). – Esse puro
mundo de ficções se distingue muito a seu desfavor do mundo dos sonhos pelo
fato de que este reflete a realidade,
enquanto ele a falsifica, desvaloriza, nega.
Nietzsche
é citado pelos cristãos, via de regra, de uma forma descontextualizada. A
propósito, essa prática não exclui a própria Bíblia, sempre recortada versículo
a versículo (segundo o interesse do pregador ou sermonista).
Nada como ser nietzschiano.
Nada como ser nietzschiano.
2 comentários:
E como ele próprio escreveu: o último verdadeiro cristão morreu pregado em uma cruz.
E como ele próprio escreveu: o último verdadeiro cristão morreu pregado em uma cruz.
Postar um comentário