terça-feira, 29 de outubro de 2019

A POESIA E SEUS ELEMENTOS


    O Modernismo revolucionou as artes, sobretudo a literatura, a romper com as normas acadêmicas. A poesia se libertou dos padrões anteriores, da estrofação regular, dos versos isossilábicos, do ritmo, da rima.
     Essa liberdade, todavia, não é definitiva, radical, na medida em que os próprios poetas modernistas continuam a produzir formalmente como desde sempre.
        Carlos Drummond de Andrade era modernista, iniciador da segunda geração (a propósito), e constitui o melhor exemplo do que afirmo no parágrafo acima. Ele publicou vários sonetos e outras formas fixas de poema.
         Uma prova disso:

                     O mundo é grande
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

        O primeiro, o terceiro e o quinto versos contam seis sílabas poéticas, com tonicidade na segunda, quarta e sexta sílabas; poéticas. O segundo verso, tonicidade na quarta e oitava; o quarto verso, na segunda, sexta e oitava sílabas; e o sexto verso, na segunda, quarta e oitava sílabas.
      Não bastasse o paralelismo, que é a repetição da mesma estrutura frasal, o ritmo do poema também é determinado pela métrica (com acentuação nas mesmas sílabas):

2 – 4 – 6
      4        8
2 – 4 – 6
2        6 – 8
2 – 4 – 6  
2 – 4        8

         Todo iniciante na arte literária deve compreender que liberdade formal não implica escrever poesia como se fosse prosa, simplesmente a mudar de linha antes de chegar ao fim. Um poema com estrofes regulares e versos irregulares é um monstrengo, independentemente de seu conteúdo.

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