O
Modernismo revolucionou as artes, sobretudo a literatura, a romper com as
normas acadêmicas. A poesia se libertou dos padrões anteriores, da estrofação
regular, dos versos isossilábicos, do ritmo, da rima.
Essa liberdade, todavia, não é
definitiva, radical, na medida em que os próprios poetas modernistas continuam
a produzir formalmente como desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade era
modernista, iniciador da segunda geração (a propósito), e constitui o melhor
exemplo do que afirmo no parágrafo acima. Ele publicou vários sonetos e outras
formas fixas de poema.
Uma prova disso:
O mundo é grande
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
O primeiro, o terceiro e o quinto
versos contam seis sílabas poéticas, com tonicidade na segunda, quarta e sexta
sílabas; poéticas. O segundo verso, tonicidade na quarta e oitava; o quarto
verso, na segunda, sexta e oitava sílabas; e o sexto verso, na segunda, quarta
e oitava sílabas.
Não bastasse o paralelismo, que é a
repetição da mesma estrutura frasal, o ritmo do poema também é determinado pela
métrica (com acentuação nas mesmas sílabas):
2 – 4 – 6
4
– 8
2
– 4 – 6
2 –
6 – 8
2
– 4 – 6
2
– 4 – 8
Todo iniciante na
arte literária deve compreender que liberdade formal não implica escrever poesia
como se fosse prosa, simplesmente a mudar de linha antes de chegar ao fim. Um
poema com estrofes regulares e versos irregulares é um monstrengo,
independentemente de seu conteúdo.
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