sexta-feira, 3 de maio de 2019

CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS


Sobre Agostinho:

I – Agostinho escreve “Deus criou o Céu e a Terra” em diversos momentos de suas produções teológicas. Diferentemente de Platão, a quem deve influência, o cristão retoma a narrativa de alguns mitos cosmogônicos (os quais sustentaram e ainda sustentam algumas religiões). Essa premissa mítica “Deus criou o Céu e a Terra”, de Copérnico às últimas descobertas astronômicas, tampouco como metáfora faz sentido.

II – No último parágrafo da página 5, do texto 05, sobre Santo Agostinho, lê-se “O ser humano, sendo temporal, não pode compreender com a sua sabedoria a eternidade divina. Alcança, no máximo, por iluminação, um saber negativo do ser divino, pois a eternidade não é absolutamente temporal”. O que explicita esse excerto? O homem só pode conhecer Deus por aquilo que ele não é – o saber negativo.  Na página 7, do mesmo texto, afirma-se que “o ser de Deus é”. Quem é que afirma esse saber positivo? Afinal, conhece-se Deus por aquilo que ele não é ou por aquilo que ele é?

III – Agostinho valora a filosofia grega, sobretudo Platão, que ele destaca como o maior filósofo. Sobre Aristóteles, o teólogo tem como “superior a muitos platônicos, mas inferior em estilo a Platão”. Para aclarar tal ambiguidade, convém separar a frase em duas proposições: 1) Aristóteles é superior a muitos platônicos, isto é, superior aos seguidores de Platão; e 2) Aristóteles é inferior em estilo a Platão, isto é, igual ou superior em tudo mais. Não é exatamente o que se pressupõe ou subentende do texto? Por último, qual a relevância do estilo para a filosofia ou para a ciência?




Sobre Tomás de Aquino:

I – Tomás de Aquino concebe que o corpo e a alma sejam entidades distintas uma da outra, mas não divisíveis. Os termos “entidades”, “distintas” e “divisíveis” foram traduzidos ao pé da letra do texto escolástico? Sim ou não? A afirmação de que “o corpo e a alma sejam entidades distintas, mas não divisíveis” soa como um sofisma, para não dizer, com Rudolf Carnap, sem sentido.

II – Tomás de Aquino denomina o corpo e a alma como “substâncias incompletas”, que, juntas, formam uma substância. Um corpo sem alma não é um corpo, mas um cadáver em processo de desintegração. A alma, por sua vez, visto que se complementa com o corpo, não deveria ter o mesmo destino finalista de seu complemento? O escolástico acredita, todavia, que a alma humana sobrevive à morte. O corpo deixa de existir, e a alma adquire completude, autonomia. É isso?

III – Tomás de Aquino atribui ao homem uma “alma racional”, qualitativamente superior à “alma sensitiva” dos animais. A alma racional subsume, segundo ele, a alma sensitiva e vegetativa (das plantas). Todos os seres viventes têm alma, ao contrário do que Descartes pensaria quatro séculos mais tarde. A questão é: quando o homem adquiriu uma alma racional? Desde o início (como conta o mito)? Início de quê? Quando o ancestral genético do homem deixou de ser um animal, para se tornar humano, dotado de uma alma racional? Há seis/sete milhões de anos (com a separação dos gêneros Pan e Homo da subfamília homininae)? Há quatro milhões (com a evolução do bipedalismo)? Há dois milhões (com o fabrico das primeiras ferramentas)? Há trezentos mil anos (com o surgimento do homo sapiens)? Há setenta-noventa mil (com a mais antiga revolução cognitiva)? Há dez-catorze mil (com a domesticação de plantas e animais)? Há cinco mil (com a descoberta da escrita)? Quando? Quando? Quando?  Não teria sido quando se fez palavra a imaginação mítico-teológica?

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