Sobre Agostinho:
I – Agostinho escreve “Deus
criou o Céu e a Terra” em diversos momentos de suas produções teológicas.
Diferentemente de Platão, a quem deve influência, o cristão retoma a narrativa
de alguns mitos cosmogônicos (os quais sustentaram e ainda sustentam algumas
religiões). Essa premissa mítica “Deus criou o Céu e a Terra”, de Copérnico às
últimas descobertas astronômicas, tampouco como metáfora faz sentido.
II – No último
parágrafo da página 5, do texto 05, sobre Santo Agostinho, lê-se “O ser humano,
sendo temporal, não pode compreender com a sua sabedoria a eternidade divina.
Alcança, no máximo, por iluminação, um saber negativo do ser divino, pois a
eternidade não é absolutamente temporal”. O que explicita esse excerto? O homem
só pode conhecer Deus por aquilo que ele não é – o saber negativo. Na página 7, do mesmo texto, afirma-se que “o
ser de Deus é”. Quem é que afirma esse saber positivo? Afinal, conhece-se Deus
por aquilo que ele não é ou por aquilo que ele é?
III – Agostinho valora
a filosofia grega, sobretudo Platão, que ele destaca como o maior filósofo.
Sobre Aristóteles, o teólogo tem como “superior a muitos platônicos, mas
inferior em estilo a Platão”. Para aclarar tal ambiguidade, convém separar a
frase em duas proposições: 1) Aristóteles é superior a muitos platônicos, isto
é, superior aos seguidores de Platão; e 2) Aristóteles é inferior em estilo a Platão, isto é, igual ou
superior em tudo mais. Não é exatamente o que se pressupõe ou subentende do
texto? Por último, qual a relevância do estilo para a filosofia ou para a
ciência?
Sobre Tomás de Aquino:
I – Tomás de Aquino
concebe que o corpo e a alma sejam entidades
distintas uma da outra, mas não divisíveis. Os termos “entidades”, “distintas”
e “divisíveis” foram traduzidos ao pé da letra do texto escolástico? Sim ou
não? A afirmação de que “o corpo e a alma sejam entidades distintas, mas não
divisíveis” soa como um sofisma, para não dizer, com Rudolf Carnap, sem
sentido.
II – Tomás de Aquino
denomina o corpo e a alma como “substâncias incompletas”, que, juntas, formam
uma substância. Um corpo sem alma não é um corpo, mas um cadáver em processo de
desintegração. A alma, por sua vez, visto que se complementa com o corpo, não
deveria ter o mesmo destino finalista de seu complemento? O escolástico
acredita, todavia, que a alma humana sobrevive à morte. O corpo deixa de
existir, e a alma adquire completude, autonomia. É isso?
III – Tomás de Aquino
atribui ao homem uma “alma racional”, qualitativamente superior à “alma
sensitiva” dos animais. A alma racional subsume, segundo ele, a alma sensitiva
e vegetativa (das plantas). Todos os seres viventes têm alma, ao contrário do
que Descartes pensaria quatro séculos mais tarde. A questão é: quando o homem
adquiriu uma alma racional? Desde o início (como conta o mito)? Início de quê?
Quando o ancestral genético do homem deixou de ser um animal, para se tornar
humano, dotado de uma alma racional? Há seis/sete milhões de anos (com a
separação dos gêneros Pan e Homo da subfamília homininae)? Há quatro milhões (com a evolução do bipedalismo)? Há
dois milhões (com o fabrico das primeiras ferramentas)? Há trezentos mil anos
(com o surgimento do homo sapiens)?
Há setenta-noventa mil (com a mais antiga revolução cognitiva)? Há dez-catorze
mil (com a domesticação de plantas e animais)? Há cinco mil (com a descoberta
da escrita)? Quando? Quando? Quando? Não
teria sido quando se fez palavra a imaginação mítico-teológica?
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