FÁBIO,
Em meu curso de
Filosofia, tenho estudado a lógica das proposições, sentenças ou frases.
O autor de A coruja
atrasada cita Hegel, o pensador do idealismo absoluto, para quem a realidade é
essencialmente mudança, vir a ser, e a filosofia nada mais é que a história (o
registro daquilo que existiu num determinado tempo).
De acordo com essa
definição hegeliana, a história não pode virar tudo ao avesso – como o expressa
o cronista. A realidade, que é o presente vivo, sim, muda da água para o vinho
(não necessariamente nessa ordem).
Os cristãos não eram
perseguidos nos primeiros séculos (a partir de Roma)? Depois da oficialização
por Constantino, a igreja cristã passou a perseguir não apenas os hereges,
sodomitas e usurários, mas os homens de ciência, cujo melhor exemplo foi
Galileu.
A realidade não é a
história, o registro temporal, tampouco o é a filosofia, a reflexão sobre o real.
Hegel pensava – na mesma
linha de Platão – que a realidade, sendo o vir a ser dialético da Ideia,
poderia ser deduzida a priori.
Uma loucura
metafísica, um sonho de que a filosofia pudesse acompanhar a realidade, desde
as primeiras horas da manhã.
Que ave a
representaria?
Não te parece óbvio
que “vivemos para a frente, mas entendemos para trás”? Em que circunstâncias a
filosofia chegaria na hora ou adiantada (como sonham os idealista)?
A coruja, na condição
natural, não voa de dia. Ela é da noite. Hegel e Marx propunham mudá-la. O
resultado foi uma metáfora teratológica.
A coruja não está
atrasada, como se o pensamento reflexivo de alguns homens (filósofos) pudesse
mudar o curso da vida (que a história registra).
Por outro viés, do
dia seguinte, a posteriori, a coruja
se adianta.
Giordano Bruno,
queimado pela Igreja, foi dos pioneiros a contribuir com a filosofia para mudar
a realidade inquisitorial.
A última sentença do
cronista é uma estranha miscelânea de verdades evidentes (truísmos) e de raciocínios
não válidos – como o de generalizar que a “a ordem de todas as coisas” é de ser
sazonal.
Rudolf Carnap diria
que se trata de uma pseudo-sentença.
O texto A coruja atrasada é notadamente
pernóstico.
Um abraço,
FROILAM
(A postagem acima é o comentário que fiz sobre a coluna de L.F. Veríssimo, A coruja atrasada, atendendo meu amigo Fábio Andretta.)
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