terça-feira, 26 de maio de 2015



FÁBIO,
Em meu curso de Filosofia, tenho estudado a lógica das proposições, sentenças ou frases.
O autor de A coruja atrasada cita Hegel, o pensador do idealismo absoluto, para quem a realidade é essencialmente mudança, vir a ser, e a filosofia nada mais é que a história (o registro daquilo que existiu num determinado tempo).
De acordo com essa definição hegeliana, a história não pode virar tudo ao avesso – como o expressa o cronista. A realidade, que é o presente vivo, sim, muda da água para o vinho (não necessariamente nessa ordem).
Os cristãos não eram perseguidos nos primeiros séculos (a partir de Roma)? Depois da oficialização por Constantino, a igreja cristã passou a perseguir não apenas os hereges, sodomitas e usurários, mas os homens de ciência, cujo melhor exemplo foi Galileu.
A realidade não é a história, o registro temporal, tampouco o é a filosofia, a reflexão sobre o real.
Hegel pensava – na mesma linha de Platão – que a realidade, sendo o vir a ser dialético da Ideia, poderia ser deduzida a priori.
Uma loucura metafísica, um sonho de que a filosofia pudesse acompanhar a realidade, desde as primeiras horas da manhã.
Que ave a representaria?
Não te parece óbvio que “vivemos para a frente, mas entendemos para trás”? Em que circunstâncias a filosofia chegaria na hora ou adiantada (como sonham os idealista)?
A coruja, na condição natural, não voa de dia. Ela é da noite. Hegel e Marx propunham mudá-la. O resultado foi uma metáfora teratológica.
A coruja não está atrasada, como se o pensamento reflexivo de alguns homens (filósofos) pudesse mudar o curso da vida (que a história registra).
Por outro viés, do dia seguinte, a posteriori, a coruja se adianta.
Giordano Bruno, queimado pela Igreja, foi dos pioneiros a contribuir com a filosofia para mudar a realidade inquisitorial.
A última sentença do cronista é uma estranha miscelânea de verdades evidentes (truísmos) e de raciocínios não válidos – como o de generalizar que a “a ordem de todas as coisas” é de ser sazonal.
Rudolf Carnap diria que se trata de uma pseudo-sentença.
O texto A coruja atrasada é notadamente pernóstico.
Um abraço,
FROILAM

(A postagem acima é o comentário que fiz sobre a coluna de L.F. Veríssimo, A coruja atrasada, atendendo meu amigo Fábio Andretta.)

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