Uma campanha midiática do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) busca eleger o maior brasileiro de todos os tempos. Sensacionalismo! Pouca seriedade! Contribuição gratuita para a depreciação de nosso país iniciada por Charles de Gaulle! Essa campanha não destoa de outros monstrengos que produzimos culturalmente. Maior no quê? Como cotejar representantes de uma mesma área? Entre Irmã Dulce e Chico Xavier? Entre D. Pedro II e Getúlio Vargas? E de áreas diferentes? Entre Cândido Rondon e Villa-Lobos? Entre Tiradentes e Oswaldo Cruz? Outros nomes podem figurar nessa relação: Landell de Moura, Bartolomeu de Gusmão, Carlos Gomes, Pelé, Machado de Assis, Barão do Rio Branco, Cândido Portinari, Anísio Teixeira, Santos Dumont... Numa relação inicial das doze personalidades favoritas, percebe-se a clara tendência de superestimar o presente, como se os maiores brasileiros surgissem nas últimas décadas (feito cogumelos depois da chuva). Oito dos doze nomes mais votados pertencem à segunda metade do século XX: Juscelino Kubitscheck, Oscar Niemeyer, Pelé, Chico Xavier, Irmã Dulce, Ayrton Senna, Fernando Henrique Cardoso e Lula. A inclusão dos dois últimos ex-presidentes prova a falta de discernimento histórico ou de memória mesmo. Todo absurdo é passível de eleição num país cheio de analfabetos funcionais.
No rodapé da coluna passada, anotei que continuaria com o tema das diferenças entre esperteza, inteligência e sabedoria. Não há espaço, todavia, para associar o Brasil pouco sério ao Brasil dos espertos, cujo produto cultural mais conhecido para consumo interno é o do jeitinho brasileiro, tão característico da malandragem.
(Publicado na última edição do Expresso Ilustrado.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário