segunda-feira, 20 de agosto de 2012

INCONSISTÊNCIA SEMÂNTICA

Há anos, li Thiago de Mello e não gostei de sua poesia palavrosa, tautológica. Ele é diferente de Manuel de Barros, de quem gosto muitíssimo. 
No poema Os estatutos do homem, TM escreve:
"Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu"

Essas prosopopeias repentinas, sobrepondo-se à linguagem referencial, são um descalabro. A palmeira confiar no vento ainda passa, mas o vento confiar no ar... Vento e ar não são a mesmíssima coisa? Eis o pior verso da poesia brasileira: "como o vento confia no ar". Acompanha-lhe outro de parecida inconsistência semântica: "como o ar confia no campo azul do céu". 

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