Um leitor anônimo, raro por sua boa educação, questiona-me como fui convidado para entrar numa loja maçônica se sou ateu. O convite indireto, feito há mais de dez anos, partiu de um maçom que não sabia do meu ateísmo. Certamente, ele não sabe até hoje, uma vez que me conheceu nos anos oitenta, quando ainda me considerava católico, fortemente condicionado pelas pessoas mais queridas da minha família. Logo me afastei de Santiago por doze anos, sempre retornando na férias e nos feriados maiores. Bastou as primeiras leituras de Krishnamurti, de Filosofia (Nietzsche, Bertrand Russel, Feuerbach, entre outros) e de Psicanálise (Freud, Erich Fromm, entre outros), para perceber a grande ilusão. Mais tarde, a compreensão de História Natural, principalmente sobre o evolucionismo de Darwin e pós-darwinistas, foi decisiva para descrer da vida após a morte, de deus etc. Desde o princípio da descrença, todavia, cuidava-me para não fazer alarde, como sói acontecer com os inconsequentes, que ignoram as próprias razões, que gostam de chocar, de aparecer. Em certos momentos, em vista de escrever (forçado pelas leituras cada vez mais aprofundadas, filosóficas ou científicas) sobre assuntos-tabu para a maçonaria (inclusive), acabo denunciando meu ateísmo. A propósito, por várias vezes analisei os motivos por que ainda vige o preconceito contra discutir religião. Como síntese dessas análises, esse preconceito é falsamente racionalizado como respeito ao outro, à sua crença no deus que melhor lhe apraz. Ele oculta um receio do processo mais lindo que atribuo ao discurso, à dialética: a desmistificação. De Sócrates (executado pelo poder político), passando por Giordano Bruno (executado pelo poder religioso), à maçonaria do século XXI, continua proibido discutir sobre deuses e religiões. Ao negar o convite supracitado, nada mais fiz que manter minha coerência, meu direito de ser um livre-pensador.
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