Toda vez que ouço um bem-te-vi cantar (pousado numa antena além desta janela), penso em Xenófanes, o primeiro pensador a combater o antropomorfismo. Para ser mais claro, abro o Houaiss e transcrevo a significação para o vocábulo: antropomorfismo s.m. 1 FIL REL forma de pensamento comum a diversas crenças religiosas que atribui a deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais comportamentos e pensamentos característicos do ser humano 2 FIL visão de mundo ou doutrina filosófica que, buscando a compreensão da realidade circundante, atribui características e comportamentos típicos da condição humana às formas inanimadas da natureza ou aos seres vivos irracionais.
O nome científico do bem-te-vi é Pitangus sulphuratus, que provém de pitanga guassu, em guarani. Sulphuratus diz respeito à cor amarela, como o enxofre. Há uma clara manifestação antropomórfica no nome desse pássaro, que reflete o que disse outro filósofo grego, Protágoras, que o homem é a medida de todas as coisas. Sugiro que prestem atenção ao canto do bem-te-vi. Se pudéssemos transcrever foneticamente o som por ele emitido, certamente não seria do fonema "b", seguido de um "e" nasalizado. Aproxima-se, mais claramente, de um "k", seguido de "u" e "i".
A propósito, Fátima Friedriczewski postou (em seu Jardim de Zymm) sobre uma nuvem estranha com o formato de um disco voador. Obviamente, minha amiga não insinuou que a nuvem pudesse não ser uma nuvem, mas um OVNI. Fez uma comparação, apelando para o imaginário (que constitui um diferencial no poeta).
Neste caso, o antropomorfismo se manifesta em relação a uma ideia que o senso comum (condicionado pelos ufólogos) faz de um disco voador. O estranhamento é perfeitamente compreensível, está na raiz de toda forma de medo, de assombro.
O conhecimento, como desmistificador da realidade, chega a se aproximar da poesia. A Nura fotografou uma NUVEM LENTICULAR. Basta buscar por "nuvem lenticular" no Google imagem e se divertir com uma "invasão extraterrestre".
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