Da mesma maneira que já me cansei de apontar as contradições entre a religiosidade e o materialismo que mesclam no chamado "espírito natalino", encontro-me cansado de enumerar os erros do nosso calendário e as (in)consequentes mitificações que dele se originam. Erros matemáticos: a duração do dia não é de 24 horas exatas, mas de um acréscimo que, a cada quatro anos, resulta num dia a mais. O "ano bissexto" é a prova evidente de um erro grosseiro. Mas os ocidentais, cuja civilização se sustenta na razão, pouco se importam com isso. Não é uma bagunça o número de dias atribuído a cada mês? Erros linguísticos: setembro, outubro, novembro e dezembro, por seus radicais (em português, espanhol, francês, italiano, alemão, inglês etc.), designam, respectivamente, sete, oito, nove e dez. Por que são, respectivamente, os meses nove, dez,onze e doze? Óbvio, segundo o calendário antigo, o primeiro do ano ocorria no primeiro dia de março. Por que julho e agosto têm esses nomes, com 31 dias cada um (quebrando a alternância observada até então)? Por que o início do ano mudou de março para janeiro? Por que outras culturas, como a judaica, por exemplo, a passagem do ano ocorre noutra data? O leitor soubesse responder essas perguntas acima, seguramente, deixaria de mitificar em torno do calendário. É uma fraqueza humana que institui o ritual da passagem, atribuindo à vida uma necessidade de se submeter a ciclos temporais. O ano-novo é uma mera convenção cultural, um motivo até certo ponto justificado para se fazer festa, não para crer que algo mude em essência. A linha do tempo é contínua. Mas para que (re)afirmar essa verdade? A maioria das pessoas quer mesmo é ter um motivo para suas crenças em poderes mágicos, em milagres que excedam a mediocridade em que se tornaram suas vidas.
Um comentário:
Froilam,
Creio que mitificamos o calendário pela mesma necessidade da literatura. É uma narrativa, é estar dentro da narrativa poder reviver ciclos na linha do tempo. É o sentimento de estar dentro do romance que cada um engendra na vida como personagem, alguns mais românticos outros mais realistas... Não importa se está certo ou errado e se há diversos calendários. Aliás, por que estaria errado ou estaria certo? Importa se fazemos parte dessa estória na história que cada um em coletividade deseja contar ou evidenciar a sua. É a necessidade da arte expressa no viver. A esperança de mudança para dispersar os dissabores da realidade crua. Neste aspecto que está parte da fortaleza humana, ou nunca sobreviveríamos à realidade e não haveria civilização.
Um grande abraço de seu amigo.
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