A última revista Língua Portuguesa (nº 57 - Julho de 2010) traz uma matéria interessante sobre a arte da escrita. Segundo Edgard Murano, "Todo texto, por mais impessoal que seja, projeta uma imagem de seu autor". Alguns estilos em que se sobressaem traços idiossincrático afugentam o leitor:
"O afetado - Quer passar a imagem de que está em sintonia com as ideias da moda, daí sobrecarregar o discurso com frases de efeito, mas que o conectem a uma certa identidade ou tendência. Assume o risco de tornar o texto difícil, com termos extravagantes, estrangeirismos cifrados, além de expressões vazias de sentido.
"O arrogante - É o texto de quem banca o sabe-tudo. Não importa a eficácia da mensagem, mas a construção de uma imagem de domínio do assunto, qualquer que seja ele. Daí textos ao mesmo tempo prolixos (a transpirar sapiência técnica) e simplificadores (por tratar o leitor como um ser inferior).
"O bacharelesco - Estilo academicista, diz o simples de modo complicado. Confunde clareza com falta de precisão. Trata tudo com formalidade, mesmo o insignificante e o senso comum. Imagina um leitor informado, e por isso evita ser minucioso demais e adianta conclusões. Mas como o leitor sem sempre é outro acadêmico, deveria esclarecer cada ponto.
"O confuso - Texto truncado, sem encadeamento lógico de ideias, revela alguém a ignorar que o modo de apresentar os fatos já é, em si, um argumento. Repetições e raciocínios truncados ocorrem quando, por exemplo, uma observação particular é seguida por uma geral e depois dá lugar a outros aspectos particulares.
"O picareta - Falso criativo, não entrega o que promete. Trabalha com valores consagrados, criando uma espécie de positivo absoluto, um texto 'curinga' repleto de valores inquestionáveis que se adaptam a qualquer tipo de redação, ainda que não digam a que vieram. Sábio o bastante para dizer coisas que significam tudo e nada.
"O subalterno - A linguagem não é só burocrática como vaga, pois não assume compromissos nem responsabilidade, pois teme a hierarquia e as instâncias de poder superior. Evita correr riscos pelo leitor, por isso não o surpreende.
"O verborrágico - Com frases longas, empoladas e enfileiradas, acredita que do contrário seria tomado simplório. A erudição forçada e a preocupação excessiva com a estruturação das frases traem a fragilidade de conteúdo. A linguagem se torna pouco clara, inclusive a um leitor técnico."
(Não incluí o "tímido", por julgar quase uma repetição do estilo "subalterno".)
Um comentário:
Bela garimpagem. Parabéns!
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