domingo, 31 de maio de 2015

LINHA DO TEMPO VERSUS MITO JUDAICO-CRISTÃO

A LINHA do tempo, com os principais eventos que a pontuam sem uma regularidade absoluta, por si só, bastaria para DESMITIFICAR a crença num mundo recente - que domina o senso comum, porque é determinado pela mítica judaico-cristã. Judaísmo e cristianismo representam a componente espiritual da nossa civilização, fundamentada no mito da criação (narrado no Gênesis). Segundo esse mito, a humanidade iniciada pelo casal adâmico não passaria de alguns mil anos de existência. Essa origem, todavia, pode ser demarcada apenas por um ponto imediatamente anterior ao extremo presente, caso a linha do tempo pudesse ser traçada horizontalmente neste espaço. O HOMO SAPIENS existe há mais de cem mil anos. O HOMO HABILIS, o primeiro hominídeo a construir ferramenta, viveu há mais de dois milhões de anos. Como pode o mundo bíblico ter menos idade do que as pinturas rupestres do paleolítico superior? Menos idade do que a invenção da agricultura (domesticação de plantas)? Toda a existência do homem, desde que começou a se constituir como espécie, não passa de um ponto, por sua vez, na linha do tempo em que incluir a vida no planeta. Apenas os dinossauros (metáfora que designa diversas espécies de animais) dominaram a Terra por mais de 150 milhões de anos.

sábado, 30 de maio de 2015

RELIGIOSOS, ATEUS E A LINHA DO TEMPO

O Escalão Superior determinou que as Organizações Militares realizassem mensalmente, com todo o efetivo disponível, uma reunião ou culto de caráter religioso. A última sexta-feira de cada mês foi escolhida para o evento. No quartel em que servi até 2009, os militares foram divididos em três grandes grupos: católicos, evangélicos e espíritas. Não por intermédio de minha liderança, os ateus começaram a reclamar. Um novo comandante resolveu criar o quarto grupo, em que fossem debatidos assuntos diversos, não religiosos. Como voluntário, fui escalado para falar aos ateus. O tema da minha palestra foi a linha do tempo, quando e o que aconteceu de mais importante na história do nosso planeta. Desde muito, percebi a dificuldade que as pessoas têm de compreender as distâncias de tempo e de espaço, superestimando o tempo presente e o mundo que está em volta. Não demorou, outro comandante, que era evangélico, dissolveu o grupo de ateus, cujos integrantes foram obrigados a participar dos outros três. Mais tarde, houve encontros ecumênicos, com a participação de todos (num mesmo local).
Richard Dawkins, preocupado com o problema de compreensão do tempo na evolução da vida em nosso planeta, elabora uma analogia interessante (em Desvendando o Arco-Íris). Ainda há cristão que acredita (tem fé) que a idade do mundo não ultrapassa dez mil anos.  Dawkins compara a linha do tempo com a envergadura de uma pessoa (comprimento da ponta do dedo médio de uma mão à do dedo médio da outra, estando os braços abertos horizontalmente).

"Abra bem os braços num gesto expansivo para abarcar toda a evolução, desde a sua origem na ponta dos dedos esquerdos até os dias de hoje na ponta dos dedos direitos. Em toda a extensão que passa pela sua linha mediana e segue bem depois do ombro direito, a vida consiste apenas em bactérias. A vida multicelular e invertebrada floresce em algum lugar perto do cotovelo direito. Os dinossauros se originam no meio da sua palma direita, e são extintos perto do nó de seu último dedo (médio). Toda a história do Homo sapiens e do nosso predecessor Homo erectus está contida na espessura de um corte de unha. Quanto à história registrada; quanto aos sumérios, aos babilônios, aos patriarcas judaicos, às dinastias dos faraós, às legiões de Roma, aos padres da Igreja cristã, às leis dos medas e persas que nunca mudam; quaqnto a Troia e aos gregos, a Helena, Aquiles e Agamenon mortos; quanto a Napoleão e Hitler, quanto aos Beatles e a Bill Clinton, eles e todos os demais que os conheceram são soprados juntos com a poeira gerada por um leve raspar de uma lixa de unha". 
(Aos leitores deste blog, como postar o texto acima no Facebook?)

sexta-feira, 29 de maio de 2015

TESTE DE HUME

Em Investigação acerca do entendimento humano, Seção X, Dos Milagres, David Hume escreve: 
"Não há testemunho suficiente para fundamentar um milagre, a menos que o testemunho seja tal que sua falsidade seria ainda mais miraculosa que o fato que pretende estabelecer".
Leiam e raciocinem sobre esse teste lógico elaborado pelo grande filósofo escocês do século XVIII.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

FÉ VERSUS CIÊNCIA



O crente, aquele que segue determinada religião, que crê em determinado deus, considera sua fé como algo mais importante que o conhecimento racional. Ele chega a abominar o conhecimento da evolução da vida em nosso planeta, na medida em que essa evolução desmitifica sua crença na criação. Cito o evolucionismo (descoberto por Charles Darwin), mas poderia tomar outro exemplo, como o heliocentrismo. Antes de Nicolau Copérnico o haver provado matematicamente, todos os cristãos, o papa inclusive, acreditavam que a Terra era o centro do Universo – em torno do qual giravam os demais corpos celestes. A fé no geocentrismo era inquestionável até o ano de 1543, como o é o criacionismo (mesmo) 156 anos depois da publicação de A origem das espécies. A fé de 500 anos atrás num deus criador e a de hoje são exatamente da mesma intensidade. A principal qualidade da fé é de ser relativamente atemporal. Os egípcios, os gregos, os vikings, os guaranis, todos os povos/ civilizações viviam a fé num deus (caso do Egito da época de Akhenaton) ou deuses. Essa fé não era menor ou mais equivocada que a judaico-cristã. Os deuses dos povos/ civilizações acima citados desapareceram nas brumas do tempo, assim que deixou de existir a religião que professava suas divindades. O judaísmo e o cristianismo ainda vigem. Eis a diferença. Os dogmas e crenças que transformaram o deus Jeová num deus único, a ponto de eclipsar o próprio nome, resistem a todo conhecimento desmistificador.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

MEU DIÁLOGO COM DAWKINS



         O princípio de minha vida de leitor ocorreu em 1973, quando fui apresentado à biblioteca do Colégio Polivalente. O ritmo e a profundidade das leituras criaram em mim a necessidade de expressar ideias próprias. Dessa forma, no final dos anos oitenta, comecei a produzir meus primeiros textos. Em seis cadernos datilografados trabalhosamente, compilei esses ensaios um tanto canhestros, impublicáveis. 
         Hoje, lendo Desvendando o Arco-íris, de Richard Dawkins, destaco eufórico o que ele escreveu contra os astrólogos, contra a astrologia. 
“Os astrólogos […] afirmam poder prever o futuro e adivinhar as fraquezas pessoais, e recebem pagamento por isso, bem como por conselhos profissionais sobre decisões importantes.

“Não há nenhum mecanismo físico conhecido pelo qual a posição de distantes corpos celestes no momento do nascimento de uma pessoa poderia exercer alguma influência causal sobre a sua natureza ou destino”

Já escrevi que o termo mais correto para definir a pseudociência é “astromancia”, não “astrologia”.
Na semana passada, falando para os alunos do Instituto de Educação Professor Isaías, falei que era impossível um planeta distante exercer alguma influência sobre a Terra, a ponto de influenciar no destino das pessoas.
Mais Dawkins:
“Muitas pessoas são tão versadas no conhecimento dos signos que sabem as características que delas são esperadas. Por isso, têm uma pequena tendência a corresponder a essas expectativas – não grande, mas o suficiente para produzir os efeitos estatísticos muito tênues que foram observados”
Dawkins se refere a estudos que sugeriram uma correlação estatística entre o “signo” e o caráter.
“Os diferentes astrólogos têm presumivelmente acesso aos mesmos livros. Ainda que seus veredictos sejam errados, seria de pensar que seus métodos fossem bastante sistemáticos para produzir os mesmos veredictos errados”
Esses excertos são pequenas amostras de um conhecimento que desmistifica, conhecimento que amalgama filosofia e ciência.

          No meu último caderno (compilado em 1995), escrevo O décimo terceiro signo:

“Tudo o que se publicou contra a astrologia cai no esquecimento, por uma razão bastante óbvia: contra o mito enraizado na alma popular, lança-se inutilmente a luz desmistificadora do conhecimento. Ao longo da história humana tem sido assim: faz-se necessário que um novo mito, originado no velho ou estranho a ele, crie a contradição e, por conseguinte, a derrocada de um, de outro ou dos dois. Com respeito á astrologia (astromancia), a recente descoberta do décimo terceiro signo zodiacal, realizada por um grupo de astrônomos ingleses, vai de encontro a milênios de prática desse mito – abominado pelos gregos clássicos e pela Igreja Católica na atualidade. […] As reações são inevitáveis, mas o décimo terceiro signo nega tudo o que se fez e o que se faz em astrologia, na artimanha de ludibriar o senso comum e ganhar dinheiro”. 

            No texto seguinte do mesmo caderno, Astroadivinhação, assim inicio meu ensaio nietzschiano:
“Apenas duas ‘marteladas’ bastam para pôr abaixo todo o edifício da astrologia: a primeira fica por conta da Astronomia, ciência verdadeira, e a segunda, também empírica, a cargo da Estatística”.

terça-feira, 26 de maio de 2015



FÁBIO,
Em meu curso de Filosofia, tenho estudado a lógica das proposições, sentenças ou frases.
O autor de A coruja atrasada cita Hegel, o pensador do idealismo absoluto, para quem a realidade é essencialmente mudança, vir a ser, e a filosofia nada mais é que a história (o registro daquilo que existiu num determinado tempo).
De acordo com essa definição hegeliana, a história não pode virar tudo ao avesso – como o expressa o cronista. A realidade, que é o presente vivo, sim, muda da água para o vinho (não necessariamente nessa ordem).
Os cristãos não eram perseguidos nos primeiros séculos (a partir de Roma)? Depois da oficialização por Constantino, a igreja cristã passou a perseguir não apenas os hereges, sodomitas e usurários, mas os homens de ciência, cujo melhor exemplo foi Galileu.
A realidade não é a história, o registro temporal, tampouco o é a filosofia, a reflexão sobre o real.
Hegel pensava – na mesma linha de Platão – que a realidade, sendo o vir a ser dialético da Ideia, poderia ser deduzida a priori.
Uma loucura metafísica, um sonho de que a filosofia pudesse acompanhar a realidade, desde as primeiras horas da manhã.
Que ave a representaria?
Não te parece óbvio que “vivemos para a frente, mas entendemos para trás”? Em que circunstâncias a filosofia chegaria na hora ou adiantada (como sonham os idealista)?
A coruja, na condição natural, não voa de dia. Ela é da noite. Hegel e Marx propunham mudá-la. O resultado foi uma metáfora teratológica.
A coruja não está atrasada, como se o pensamento reflexivo de alguns homens (filósofos) pudesse mudar o curso da vida (que a história registra).
Por outro viés, do dia seguinte, a posteriori, a coruja se adianta.
Giordano Bruno, queimado pela Igreja, foi dos pioneiros a contribuir com a filosofia para mudar a realidade inquisitorial.
A última sentença do cronista é uma estranha miscelânea de verdades evidentes (truísmos) e de raciocínios não válidos – como o de generalizar que a “a ordem de todas as coisas” é de ser sazonal.
Rudolf Carnap diria que se trata de uma pseudo-sentença.
O texto A coruja atrasada é notadamente pernóstico.
Um abraço,
FROILAM

(A postagem acima é o comentário que fiz sobre a coluna de L.F. Veríssimo, A coruja atrasada, atendendo meu amigo Fábio Andretta.)

segunda-feira, 25 de maio de 2015

A TERCEIRA MARGEM DO RIO

O conto A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa, certamente está entre os melhores desse gênero literário (produzido no Brasil). Para sua leitura, acesse aqui.
Antes de ler a Introdução de Os cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Ítalo Moriconi, estranhei que não encontrar o conto acima na relação (ou qualquer outro de Guimarães Rosa). Essa falta equivaleria a não incluir Jorge Luis Borges de uma seleção dos melhores contos argentinos. 
Ao ler a introdução, todavia, fico sabendo do motivo da não inclusão dos contos de GR: "dificuldades relativas à cessão de direitos autorais". 
O organizador poderia ter publicado Carlos Carvalho (Feliz aniversário, Verão e Cabra-cega são muito bons), Geir Campos, Nelson Rodrigues, João Simões Lopes Neto, Walmir Ayala, Roberto Drummond, entre outros. 

domingo, 24 de maio de 2015

DAWKINS (MAIS UMA VEZ)


O Zero Hora traz uma reportagem no PrOA sobre RICHARD DAWKINS, que amanhã estará abrindo o Fronteiras do Pensamento no Auditório Araújo Vianna. (Estou arreliado por não poder ir a Porto Alegre.) 
Ontem me chegou o décimo livro de Richard Dawkins, A magia da realidade.  Na semana que passou, concluí a leitura de O maior espetáculo da Terra e iniciei Desvendando o Arco-Íris.
Leio Dawkins não para papagaiar suas ideias, isso seria esnobismo intelectual. Leio-o, na medida em que ele é a síntese de outras leitura que faço desde antes do lançamento de O gene egoísta. Minha leitura do mundo se identifica com a leitura desse cientista e filósofo. Há alguns anos, venho por esse caminho, cujas margens são a Filosofia e a Ciência.
Os dois livros citados na reportagem, que não pertencem a Dawkins, sempre trago comigo: A origem das espécies, de Charles Darwin, e Por que não sou cristão, de Bertrand Russel (que emprestei não sei para quem). 
Penso que os mitos religiosos cristãos  não são de natureza diferente dos demais mitos que sustentaram todas as religiões do passado. Para a superação desses mitos, defendo (sem o argumento de autoridade de Dawkins) que o indivíduo necessita compreender a evolução natural. 
A fé num mito (como se ele fosse a verdade) se sustenta na ignorância, na ilusão. 

sábado, 23 de maio de 2015

PERDE E GANHA (NÃO NECESSARIAMENTE NESSA ORDEM)



O ato de pensar tem como consequência mais indesejável o afastamento do pensador das pessoas que o cercam cotidianamente. De uma forma diversa da arte, que aproxima sujeito e objeto, o conhecimento racional (filosófico ou científico) exige como que um distanciamento entre um e outro. Ao fazer uma análise da própria sociedade a que pertence, o sujeito se coloca diante de um trade-off, constituído pelo objetivo de estudar com imparcialidade um determinado fato social, por exemplo, e pela resistência que terá das pessoas envolvidas direta ou indiretamente. O ganho por conseguir ser verdadeiro é pequeno diante da perda real, considerando-se a antipatia, o despeito, entre outras reações que sobem repentinamente do fundo abissal da alma humana.
(Numa próxima oportunidade, digo, parágrafo, explicarei como isso vem ocorrendo comigo em Santiago, ao analisar o apego conservador ao paradigma cristão e a tendência pós-moderna de segui-lo doravante.)

quinta-feira, 21 de maio de 2015

MITO

O CRIACIONISMO É UM MITO (UMA HISTÓRIA FANTASIOSA QUE EXPLICA A ORIGEM DO HOMEM, A ORIGEM DO MUNDO). 
MUITOS OUTROS MITOS DE CRIAÇÃO JÁ FORAM DESCONSTRUÍDOS PELO CONHECIMENTO FILOSÓFICO E CIENTÍFICO, COMO O EGÍPCIO, O GREGO, O NÓRDICO ETC. 
O MITO BÍBLICO AINDA VIGE, PORQUE DUAS GRANDES RELIGIÕES O SUSTENTAM: O JUDAÍSMO E O CRISTIANISMO. 
FUTURAMENTE, ELE TAMBÉM SERÁ DESCONSTRUÍDO TODAVIA. 
(Excerto de um autógrafo que escrevi em meu livro Palavras de fogo.)

segunda-feira, 18 de maio de 2015

INSATISFAÇÃO GERAL



Uma insatisfação exacerbada, sem problema expressivo, constitui-se a mais nova doença de fundo neurótico a acometer as pessoas nos últimos anos. A maioria delas reclama com acinte de alguma coisa que não está cem por cento em sua vida. 
Um observador de fora (por tudo que vê ou ouve), a princípio, conclui que o mundo logo virá abaixo. Mais tarde, todavia, ele constata que o mundo continua como o de antes e que as pessoas, sim, mudaram para pior. A insatisfação que as domina psicologicamente advém de um excesso de sensibilidade (que Nietzsche previra há um século e pico), advém de desejos consumistas não satisfeitos (que vejo nestes dias). 
A propósito, a sociedade de consumo não consegue se desvencilhar do trade-off, esse ganha e perde que cria momentos felizes e infelizes. Quanto mais os insatisfeitos consomem, mais desejam consumir  (numa corrida que não tem linha de chegada, segundo Zygmunt Bauman). 
A estabilidade econômica que o país experimentou desde o Plano Real acostumou mal os brasileiros, que passaram a consumir mais e mais. No exato momento em que se locupletavam como nunca, a instabilidade retorna sub-repticiamente. 
Agora a dívida determina o controle do consumo e, consequentemente, o queda da indústria (menos a de antidepressivos). 
A síndrome da insatisfação atinge o campo inclusive, onde os recordes na produção agrícola não são suficientes.