segunda-feira, 2 de setembro de 2019

INDIVIDUALISMO E DOENÇA


        O homem é um animal social, isso se sabe desde antes de Aristóteles dizer algo nesse sentido. Para ser mais preciso, desde antes do que se convencionou denominar “civilização”, o homo sapiens evoluiu graças à capacidade de se organizar em grupos cada vez maior. A propósito, a civilização pode ter alterado a natureza humana a ponto de não constituir um exagero nietzschiano responsabilizá-la por uma degeneração (que mina suas bases).
         O tecido social não oculta mais seus pontos de fragilidade, de ruptura, onde as células do mal se desenvolvem por “geração espontânea”. Certamente, o homem primitivo não trazia em seu pool genético qualquer propensão ao individualismo radical bastante observado nestes dias.
         A tendência ao solipsismo é incontornável. As pessoas passam a se isolar em apartamentos (cujo significado é separação, afastamento). Mesmo conectadas na grande rede de computadores, elas são cada vez mais individualistas – e solitárias.  Nesse estado, ou internalizam os efeitos do isolamento, como solidão, depressão, loucura e morte, ou os exterioriza em palavras e gestos antissociais, como maledicência, espezinhamento (troll), violência e morte.
         Sigmund Freud escreveu em O futuro de uma ilusão (ensaio magnífico) que “todo indivíduo é virtualmente inimigo da civilização”, que esta “tem de se erigir sobre a coerção e a renúncia ao instinto”. O problema (que se agiganta na pós-modernidade) consiste no contrário: os indivíduos não abrem mão de seus instintos e pulsões, que são racionalizados como a própria vontade, o próprio Eu.

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