I
O homem emergiu da natureza por intermédio da cultura, que
consiste em todas as crenças, ideias, linguagens, costumes, artes,
instituições, tecnologias etc. Desde a primeira ferramenta (feita de pedra ou
madeira), ele passou a ser humano. O processo foi demorado e difícil no começo,
de completa dependência do meio natural, onde nossos ancestrais coletavam e
caçavam para a sobrevivência. Com a descoberta e implementação da agricultura,
avançamos para outro estágio, de exploração da natureza. O próprio termo
“cultura” se origina do latim “colere”, que significa “cultivar plantas”. A
demanda por recursos naturais se acelerou desde as comunidades agrícolas à era
industrial, quando o poder extrativista ganhou maioridade, iniciando-se uma
corrida de exploração econômica e de destruição ambiental.
II
O fato de o homem se tornar independente da natureza traz
algumas consequências negativas para a vida (de ambos), que hoje se sabe
comparáveis ao suicídio. Esse saber, todavia, não foi assimilado pela
humanidade, que potencializa sua capacidade destrutiva ao se organizar em
estados nacionais (cujo maior objetivo e aumentar continuamente o PIB.
III
Antes que a morte chegue a Terra, ainda é possível aprender
sobre sua capacidade de renovação (ou regeneração) a partir da posição em que
se encontra na órbita translacional. Com a maior ou menor distância do Sol, ela
esfria abaixo de 0ºC ou esquenta acima de 50ºC. Entre inverno e verão, duas
estações representam um equilíbrio: primavera e outono.
IV
Hoje é chegada a primavera no hemisfério sul. Os campos
ainda se tornam verdes, as matas se cobrem de flores, os pássaros cantam... No
hemisfério norte, o outono chega tão agradável em sua cor e doura.
V
O processo de aculturação nos afastou da natureza,
tornando-nos incapazes de usufruí-la de uma forma harmônica. Na cultura
moderna, pós-industrial, perdemos a capacidade de nos renovar ciclicamente, não
mais experimentamos uma primavera em nossos espíritos (quase sempre enfastiado
pela mesmice). Toda passagem de ano nos ilude com uma mudança, quando fazemos
festa, mas, outra vez, a realidade nos apreende em seguida.
VI
O retorno à natureza é materialmente impossível, na medida
em que já foi ultrapassada a área de sua intersecção com a cultura humana.
Felizmente, não é tarde para buscarmos uma reaproximação espiritual com ela.
Nestes dias, temos mais uma oportunidade de nos permitir um rejuvenescimento
com flores, borboletas, pássaros, manhãs azuis...
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