segunda-feira, 23 de setembro de 2019

EIS A PRIMAVERA


I
         O homem emergiu da natureza por intermédio da cultura, que consiste em todas as crenças, ideias, linguagens, costumes, artes, instituições, tecnologias etc. Desde a primeira ferramenta (feita de pedra ou madeira), ele passou a ser humano. O processo foi demorado e difícil no começo, de completa dependência do meio natural, onde nossos ancestrais coletavam e caçavam para a sobrevivência. Com a descoberta e implementação da agricultura, avançamos para outro estágio, de exploração da natureza. O próprio termo “cultura” se origina do latim “colere”, que significa “cultivar plantas”. A demanda por recursos naturais se acelerou desde as comunidades agrícolas à era industrial, quando o poder extrativista ganhou maioridade, iniciando-se uma corrida de exploração econômica e de destruição ambiental.

II
         O fato de o homem se tornar independente da natureza traz algumas consequências negativas para a vida (de ambos), que hoje se sabe comparáveis ao suicídio. Esse saber, todavia, não foi assimilado pela humanidade, que potencializa sua capacidade destrutiva ao se organizar em estados nacionais (cujo maior objetivo e aumentar continuamente o PIB.

III
         Antes que a morte chegue a Terra, ainda é possível aprender sobre sua capacidade de renovação (ou regeneração) a partir da posição em que se encontra na órbita translacional. Com a maior ou menor distância do Sol, ela esfria abaixo de 0ºC ou esquenta acima de 50ºC. Entre inverno e verão, duas estações representam um equilíbrio: primavera e outono.

IV
         Hoje é chegada a primavera no hemisfério sul. Os campos ainda se tornam verdes, as matas se cobrem de flores, os pássaros cantam... No hemisfério norte, o outono chega tão agradável em sua cor e doura.

V
         O processo de aculturação nos afastou da natureza, tornando-nos incapazes de usufruí-la de uma forma harmônica. Na cultura moderna, pós-industrial, perdemos a capacidade de nos renovar ciclicamente, não mais experimentamos uma primavera em nossos espíritos (quase sempre enfastiado pela mesmice). Toda passagem de ano nos ilude com uma mudança, quando fazemos festa, mas, outra vez, a realidade nos apreende em seguida.

VI
         O retorno à natureza é materialmente impossível, na medida em que já foi ultrapassada a área de sua intersecção com a cultura humana. Felizmente, não é tarde para buscarmos uma reaproximação espiritual com ela. Nestes dias, temos mais uma oportunidade de nos permitir um rejuvenescimento com flores, borboletas, pássaros, manhãs azuis...

Nenhum comentário: