A grande lição do budismo é de que
devemos compreender nossos desejos, (se possível) dominá-los e reduzi-los
consideravelmente.
Grande parcela do nosso sofrimento advém da existência dos
desejos, principalmente daqueles que não se realizam.
Dos milhões de exemplos,
cito o desejo de progresso – material, espiritual, intelectual, artístico...
Em
nossa cultura, poucos homens não desejam adquirir bens móveis e imóveis, raros
não desejam enriquecer. Entre as exceções, alguns desejam, por exemplo, liderar
uma igreja, outros ganhar notoriedade com as ideias ou com a arte.
Há quem
consegue isso com muita determinação e trabalho. A maioria das pessoas, todavia, tem
seus sonhos continuamente adiados.
Essa maioria compõe a massa dos comuns, que
são dominados pelos desejos, pelas pulsões.
O desejo tem a sua metafísica: a
esperança.
Também neste ponto o budismo ensina que é a des-esperança uma condição
para a felicidade.
Nisto estão de acordo Krishnamurti, Comte-Sponville, Luc
Ferry e (modestamente) este colunista: esperar por algo significa que não se
tem algo, que se é feliz apenas com ele. Por extensão, esperar é ser infeliz.
(Citei duas vezes o budismo, mas não o faço mais. Essa religião/filosofia
dispensa deus, não a reencarnação, que é necessária para o homem, libertando-se
das ilusões do Eu, alcançar a iluminação.)
Numa lógica de difícil entendimento,
só quem é feliz hoje, neste momento, pode continuar a ser feliz amanhã.
Não há
um felicitômetro para medir o estado
de contentamento das pessoas, mas ele não mediria diferente a felicidade de um
simples pescador que traga em seu barquinho um peixe enorme e a de um rico
empresário que adquira um iate de luxo.
A
propósito, faço tais reflexões diante do mar, desde esta belíssima praia de
Torres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário