segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

ONDE ESTÃO OS PAIS?


A primeira coisa sensata que nos vem à mente, ao assistir a um vídeo com adolescentes depredando automóveis no centro de Santiago, consiste na pergunta "onde estão os pais?". Já sabemos onde se encontram pai e mãe desses notívagos. Provavelmente, assistindo ao primeiro beijo gay do telenovelismo brasileiro, locupletando-se com as intimidades do Big Brother, postando fotos de cães e gatos no Facebook, perdidos na noite (separados), ou dormindo o sono dos justos. O único lugar em que eles não estão é junto aos filhos. Um pouco por omissão deles, um muito por opção dos filhos, confirma-se o que escreveu G. K. Gibran: "Vossos filhos não são vossos filhos; são filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma". Mais cedo que nunca, eles adquirem autonomia, embora não saibam muito bem para quê. Não foi uma boa educação que os transformou em indivíduos autônomos, mas uma iniciação marginal, reconhecidamente anárquica, agressiva. A responsabilidade que queremos atribuir aos pais, como única alternativa para moralizar os mais jovens, é algo quase irresgatável, que se perdeu (nas últimas décadas) e que continua a se perder nestes dias. Diante dessa incapacidade moral, já devemos pensar como o Estado poderia resolver o problema, mais abrangente e mais sério do que aponta nossa análise superficial. A organização política costuma intervir com as mesmas ferramentas (medidas reificadas) de sempre. Sua ineficiência decorre, a princípio, em razão de nossa omissão como pensadores do ethos social. Na prática, falhamos como pais, agentes e pacientes de uma desestruturação familiar, porque agimos sem a reflexão necessária. Na teoria, não podemos falhar na condição de cidadãos, de indivíduos éticos. Se o Estado falhar, essa condição corre o risco de não mais nos caracterizar politicamente.

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