A primeira coisa
sensata que nos vem à mente, ao assistir a um vídeo com
adolescentes depredando automóveis no centro de Santiago, consiste
na pergunta "onde estão os pais?". Já sabemos onde se
encontram pai e mãe desses notívagos. Provavelmente, assistindo ao
primeiro beijo gay do telenovelismo brasileiro, locupletando-se com
as intimidades do Big Brother, postando fotos de cães e gatos no
Facebook, perdidos na noite (separados), ou dormindo o sono dos
justos. O único lugar em que eles não estão é junto aos filhos.
Um pouco por omissão deles, um muito por opção dos filhos,
confirma-se o que escreveu G. K. Gibran: "Vossos filhos não são
vossos filhos; são filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma".
Mais cedo que nunca, eles adquirem autonomia, embora não saibam
muito bem para quê. Não foi uma boa educação que os transformou
em indivíduos autônomos, mas uma iniciação marginal,
reconhecidamente anárquica, agressiva. A responsabilidade que
queremos atribuir aos pais, como única alternativa para moralizar os
mais jovens, é algo quase irresgatável, que se perdeu (nas últimas
décadas) e que continua a se perder nestes dias. Diante dessa
incapacidade moral, já devemos pensar como o Estado poderia resolver
o problema, mais abrangente e mais sério do que aponta nossa análise
superficial. A organização política costuma intervir com as mesmas
ferramentas (medidas reificadas) de sempre. Sua ineficiência
decorre, a princípio, em razão de nossa omissão como pensadores do
ethos social. Na prática, falhamos como pais, agentes e
pacientes de uma desestruturação familiar, porque agimos sem a
reflexão necessária. Na teoria, não podemos falhar na condição
de cidadãos, de indivíduos éticos. Se o Estado falhar, essa
condição corre o risco de não mais nos caracterizar politicamente.
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