A decadência educacional brasileira é evidente, pari passu com a decadência ética. Principais atores dessa perda de qualidade contínua: sociedade, estado e mídia. A sociedade por realizá-la na prática vivencial, o estado por oficializá-la na política e a mídia por divulgá-la de uma forma sensacionalista.
O desconhecimento de Língua Portuguesa é apenas uma das provas de decadência. Sem conhecimento gramatical (sim senhor!), do léxico à sintaxe, e semântico, não há competência para a produção textual séria, que é a expressão oral ou escrita do pensamento. Quem não sabe escrever não sabe pensar (não necessariamente nessa ordem).
Todos os anos avalio redações de jovens recrutas para um determinado quartel de Santiago. Os selecionados passam a fazer curso para a graduação imediatamente superior (cabo) durante o chamado Período de Qualificação. Nível de todos os candidatos: ensino médio. Minha conclusão é de que as escolas de nossa cidade e dos municípios tributários não ensinam o mínimo indispensável de conhecimento metalinguístico.
Os critérios para avaliação redacional do ENEM são os seguintes:
1) domínio da norma padrão da Língua Portuguesa;
2) compreensão da proposta de redação;
3) seleção e organização das informações;
4) demonstração de conhecimento da língua necessária para argumentação do texto;
5) elaboração de uma proposta de solução para os problemas abordados, respeitando os valores e considerando as diversidades socioculturais.
Como veem, caros leitores, palavras bonitas (que não refletem a realidade). Simples retórica.
Lendo as situações em que a redação do participante pode ser zerada ou anulado, transcrevo:
1) não atender a proposta solicitada ou não escrever um texto dissertativo-argumentativo;
2) sem texto escrito na folha de redação;
3) redação com até 7 linhas (discutível, no meu ponto de vista);
4) linhas com cópia dos textos motivadores apresentados no caderno de questão (nunca havia pensado nessa possibilidade);
5) redação com impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação.
O trecho destacado pela notícia no BOL (acima editado), foge completamente da proposta da redação. Não bastasse pertencer ao gênero injuntivo, diferente do que se pede (dissertativo-argumentativo). Isso não parece ser do conhecimento dos avaliadores que deram 560 pontos para o concorrente (a nota máxima de de 1.000). Não apenas o concorrente deveria receber um zero, mas também os dois que o avaliaram.
O autor da redação é um digno representante da sociedade (de que citei acima como partícipe da decadência educacional). Os avaliadores são representantes do governo, e a notícia destacada pelo site reflete a tendência midiática.
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