segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

LUGAR FELIZ



Uma coisa que muito gostava em menino era ouvir a conversa entre os adultos. (Obviamente, sem me intrometer, que configurava falta de educação.) Suas conversas, de certa forma, ampliavam meu mundo, ainda restrito ao Rincão dos Machado (nos primeiros anos), ao Bom Retiro, Vila Florida, Linha Nove, Linha Oito, Buriti e Vila Branca (nos anos seguintes). Ernesto Alves, onde residiam meus avôs Camilo Fiorenza e Maria Colpo, parecia-me um lugar muito longe, diferente de tudo o que conhecia até então. Eles falavam em Santiago e Jaguari, cidades localizadas além do horizonte que alcançavam meus olhos nas manhãs claras de abril (ou de outubro). Antes de conhecer essas cidades efetivamente, já sabia por alto como eram pelas conversas entre pais, tios, vizinhos... Não demorou, passaram a falar em Porto Alegre. Algumas pessoas iam para a Capital e vinham nas férias, descrevendo coisas extraordinárias de lá. Apenas aos onze anos conheci Santiago, onde bati com a cara num poste, tomei uma indigestão de sorvete e corri atrás de um avião até quase o aeroporto. Aos dezessete, fui a Porto Alegre. Mais tarde, morei em Santiago e em Porto Alegre. Continuavam a falar em lugares mais distantes, como Curitiba e Rio de Janeiro. Com a mesma atenção de menino, continuei a ouvir, porque esse método dava certo para o alargamento geográfico de meu universo. Hoje ainda ouço alguém contando suas viagens a Ushuaia, Machu Pichu, Paris, Nova Iorque, Viena, Katmandu e fico pensando que talvez não haja tempo para tamanha aventura. Esse pensamento é suficiente para me fazer olhar para o passado (ou para dentro de mim). Lá se encontra o lugar mais feliz da minha vida, para onde sempre retorno: Rincão dos Machado.

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