Uma coisa que muito gostava em
menino era ouvir a conversa entre os adultos. (Obviamente, sem me intrometer,
que configurava falta de educação.) Suas conversas, de certa forma, ampliavam
meu mundo, ainda restrito ao Rincão dos Machado (nos primeiros anos), ao Bom
Retiro, Vila Florida, Linha Nove, Linha Oito, Buriti e Vila Branca (nos anos
seguintes). Ernesto Alves, onde residiam meus avôs Camilo Fiorenza e Maria
Colpo, parecia-me um lugar muito longe, diferente de tudo o que conhecia até
então. Eles falavam em Santiago e Jaguari, cidades localizadas além do
horizonte que alcançavam meus olhos nas manhãs claras de abril (ou de outubro).
Antes de conhecer essas cidades efetivamente, já sabia por alto como eram pelas
conversas entre pais, tios, vizinhos... Não demorou, passaram a falar em Porto
Alegre. Algumas pessoas iam para a Capital e vinham nas férias, descrevendo
coisas extraordinárias de lá. Apenas aos onze anos conheci Santiago, onde bati
com a cara num poste, tomei uma indigestão de sorvete e corri atrás de um avião
até quase o aeroporto. Aos dezessete, fui a Porto Alegre. Mais tarde, morei em Santiago e em Porto Alegre. Continuavam a falar
em lugares mais distantes, como Curitiba e Rio de Janeiro. Com a mesma atenção
de menino, continuei a ouvir, porque esse método dava certo para o alargamento
geográfico de meu universo. Hoje ainda ouço alguém contando suas viagens a
Ushuaia, Machu Pichu, Paris, Nova Iorque, Viena, Katmandu e fico pensando que
talvez não haja tempo para tamanha aventura. Esse pensamento é suficiente para
me fazer olhar para o passado (ou para dentro de mim). Lá se encontra o lugar
mais feliz da minha vida, para onde sempre retorno: Rincão dos Machado.
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