Corria o ano de l965. Recém eu
concluíra o primeiro ano de Direito na UFRGS, era dezembro e eu estava sem um
vintém. O curso supletivo onde eu dava aulas não pagava nada durante as férias.
Foi quando meu inseparável
amigo Sulzbacher me avisou:
- Tem vagas de auxiliar de pesquisador do IEPE. É um americano que
estuda as colônias italianas da Serra.
Pagavam bem e lá me fui numa Rural Willys com Mr. Erwin e mais três colegas,
entre os quais o Sulzbacher. Mr. Erwin deixava cada um de nós numa
entrada de propriedade rural com um questionário e depois nos recolhia.
Numa noitinha ele decidiu nos distribuir mais uma vez.
Coube-me uma propriedade cuja casa ficava láááá em baixo, descendo uma
montanha. Desci e a cachorrada me acuando. Apareceu um homem jovem, chapéu de
palha e perguntou o que eu queria.
Expliquei-lhe e ele me convidou para passar para dentro. Sala e
cozinha eram conjugadas, não havia instalação elétrica. Sobre a grande mesa um
enorme pão feito em casa e um baita queijo. Perto do fogão a lenha vários
embutidos pendurados.
Duas meninas fortes, altas, de uns 15 anos, vestidas de camiseta, sem soutien,
e calção desses de futebol, cabelos pretos, olhos azuis bem claros e pele
queimada me olhavam quais duas corças.
Depois de responder ao questionário, que não quis assinar, o gringo, de seus 40
anos, me ofereceu um vinho de sua própria produção, com pão, queijo e salame. A
esposa, ainda jovem, só observando.
Fomos conversando, ele perguntou pela minha família. Vibrou muito quando eu
disse que um dos meus lados era de colonos. Ví um acordeão sobre um banco e
falei que tocava violino. Para mostrar meu conhecimento de italiano cantei para
eles " canzone per te". O gringo pegou a gaita e tocou várias canções
italianas, algumas delas eu acompanhei, como " La Montanara" e "
Santa Lucia".
A mãe das gurias disse que tinha gostado muito de mim e se eu quisesse voltar
poderia. Ao que o gringo retrucou: e até tu pode escolher uma dessas gurias,
são gêmeas. E dava risada, "tem que escolher uma só".
E as gurias espetavam o dedinho indicador no ar:
- Escolhe eu!
- Não, escolhe eu! dizia a outra.
Enquanto isso Mr. Erwin já tinha recolhido meus outros colegas e buzinava
insistentemente, lá na entrada da propriedae, que distava uns mil metros.
Claro que não ouvi.
E dê-lhe vinho!
Mr. Erwin mandou o Sulzbacher me buscar.
Quando a cachorrada o anunciou o gringo gritou:
- Chegou o outro noivo de uma das filhas!
O gringo insistiu e meu amigo também começou a beber vinho.
A noite ia avançando, veio o outro colega, até que Mr. Erwin também chegou
enfurecido e nos levou por diante de volta para a maldita Rural Willys.
As gurias nos fizeram prometer que em seguida a gente voltaria.
A esposa do gringo estava com os olhos úmidos. As duas meninas de mãozinhas ficaram acenando, tendo ao fundo um lampeão.
Se voltei lá?
Não deu tempo....
De novo.
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Gostei muitíssimo dessa crônica do Ruy, que resolvi postá-la mesmo sem sua prévia autorização.
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