Ontem D. Therezinha Lucas Tusi me ligou para elogiar a coluna editada no Expresso Ilustrado. Hoje a encontrei na rua (em frente à Loja Tamiosso), para ouvi-la dizer coisas agradáveis sobre o conteúdo do meu texto, uma metáfora da vida. Com a mais profunda sensibilidade (no alto de seus 80 anos), a poeta interpretou corretamente o final da minha crônica.
Outono
Todo verdor perecerá (um dia), a alma evolui continuamente, ao contrário do corpo, e as palavras do poeta ganham em doçura. O outono chega em boa hora, trazendo as manhãs mais claras da estação e as paisagens caducifólias (em seus tons que cambiam entre amarelo e vermelho). Com o auxílio da metáfora, pode-se estratificar a vida de uma pessoa em primavera,verão, outono e inverno. Limitada a apenas quatro ciclos. O filósofo Osvald Spengler fez essa comparação com as culturas (que identificam cada civilização). Tanto para a onto quanto para a filo, o outono é a primeira estação da maturidade, superadas as paixões tórridas da estação anterior. A temperatura sofre uma pequena queda, e os horizontes melhor se definem sob a claridade oblíqua da razão. Algumas folhas caem ou mudam de cor, e os sonhos se transformam em realidade ou emigram definitivamente. As águas de março fazem tabula rasa de todas as depressões, transformando corredeiras em remansos. Por isso, navegar é tranquilo, mais que preciso. Em terra, é tempo de colheita da polpa deliciosa para consumo imediato e da semente plenamente constituída para o plantio futuro. A única nuvem escura a cruzar os céus no outono consiste na perspectiva inversa, cujo ponto de fuga se aproxima inexoravelmente: a última estação. Com o inverno se fecham os grandes ciclos (sazonais), restando os rebrotos extemporâneos de uma primavera sempre possível para os ciclos menores, renováveis a cada ano.
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