"Enquanto o 11 de Setembro visto pelos Estados Unidos, portanto pelo Ocidente, intima todos e cada um a escolher seu campo de guerra religiosa que oporia o judeu-cristianismo e o islã, pode-se desejar escapar aos termos da alternativa colocados pelos protagonistas e optar por uma posição nietzschiana: nem judeu-cristão, nem muçulmano,pela boa razão de que esses beligerantes continuam sua guerra religiosa iniciada a partir das exortações dos judeus dos Números - originalmente intitulado o "Livro de Guerra do Senhor" - e constitutivos da Torah, que justifica o combate sanguinário contra os inimigos, até as variações recorrentes sobre esse tema no Corão, a massacrar os infiéis. Ou seja afinal perto de vinte e cinco séculos de apelo ao crime de ambas as partes? Lição de Nietzsche: entre os três monoteísmos, pode-se não querer escolher. [...] O Talmud e a Torah, a Bíblia e o Novo Testamento, o Corão e os Hadith não parecem garantias suficientes para que o filósofo escolha entre a misoginia judaica, cristã ou muçulmana, para que opte contra a carne de porco e o álcool mas pelo véu ou pela burca, que ele frequente a sinagoga, o templo, a igreja ou a mesquita, lugares todos em que a inteligência vai mal e onde há séculos prefere-se a obediência aos dogmas e a submissão à Lei. [...] No momento em que se coloca a questão do ensino do fato religioso na escola sob pretexto de criar vínculo social, de reagregar uma comunidade em abandono - por causa de um liberalismo que produz a negatividade no dia a dia, lembremos... -, de gerar um novo tipo de contrato social, de reencontrar origens comuns - monoteístas no caso - parece-me preferível o ensino do fato ateu. Antes a Genealogia da moral do que as epístolas aos coríntios."
(Do livro Tratado de ateologia, de Michel Onfray.)
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