O tempo, ou que designamos por sua passagem, caracteriza a vida consciente como escolha que não exclui um sentido trágico. Naturalmente, esse aspecto nunca impediu nossa afirmação da vida, que o fazemos com alegria (poucas vezes reconhecida como tal). Aliás, o trágico não se define como negação, conforme interpretação do pensamento moderno, mas na própria afirmação. Independentemente de todos os sofrimentos e da morte (inclusive), queremos viver, apostamos todas as fichas (inclusive as últimas) na vida. Exceto os suicidas (inclusive os culposos, que se matam sem a clara deliberação). Não conseguimos parar o tempo, é verdade, passamos com ele, ou melhor, passamos nós e exteriorizamos o reconhecimento disso na fluididade temporal. Como prova disso, quase sempre tomamos as diferenças entre o que fomos ontem e o que somos hoje como tempos diferentes. Indiscretos, queixamo-nos dessas diferenças, tecendo loas ao passado apenas para afirmar (sem nos darmos conta) a importância do presente. Isto é a vida: uma afirmação contínua. A dialética, dominante no mundo contemporâneo, é que associa tragédia a acontecimentos horríveis, que causam infelicidade e morte. Até nisso se pode ver o sintoma de uma decadência generalizada, que atinge nossa civilização.
Uma conversa que tive com Pedro Irineu Fiorenza serviu de mote para a reflexão acima. Não posso negar a influência quase exclusiva da filosofia nietzschiana nesse contraponto. A propósito, para Nietzsche, Sócrates-Platão e a moral judaico-cristã são responsáveis por um julgamento depreciativo do mundo, da vida.
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