O amigo, blogueiro e vereador Bianchini pergunta em sua penúltima postagem por que Caio Abreu não tem o devido reconhecimento em nossa cidade.
Não é o primeiro a fazer tal pergunta, tampouco será o último.
O trem já está andando, é justificável que os passageiros que entram mais tarde (em estações subsequentes) queiram sentar-se à janela. Noutras palavras, o Caio vem sendo reconhecido há muitos anos.
Para não citar a mim (que leio Caio Abreu desde 1980, quando D. Renita Andretta me emprestou O ovo apunhalado), cito o Centro Cultural de Santiago que fez uma bela homenagem ao escritor alguns dias antes dele partir definitivamente (1996).
Minha irmã, Tânia de Oliveira, era diretora de Literatura do Centro Cultural e organizou essa homenagem, que consistiu na inclusão do Caio na galeria dos escritores. A viagem a Santiago foi memoravelmente registrada pelo próprio, na crônica A raiz do pampa.
Para vir a Santiago, o Caio desistiu de ir a Montevidéu e postergou sua baixa ao hospital.
Mais tarde, com o projeto da Rua dos Poetas, nova homenagem ao Caio, com a inclusão de seu nome entre os escolhidos. Alguns foram contra tal escolha, argumentando que o Caio não era poeta (no sentido restrito do termo). Depois disso, houve uma profusão de homenagens ao escritor nascido em Santiago, com seu nome designando diversas entidades (como de uma escola técnica, por exemplo).
O blogueiro tem razão ao enfatizar "devido reconhecimento". Os santiaguenses não reconhecem Caio Abreu porque não o leem. Qualquer iniciativa institucional, como as citadas acima, não encontra a resposta do público. Isso é muito mais verdadeiro que dizer que o Caio "não cabia em nossos trilhos".
O Caio era homossexual assumido. Vários de seus contos trazem personagens homossexuais. O preconceito quanto à sexualidade do Caio existiu (e existe), mas não é a principal justificativa para o não conhecimento de sua obra. Falta leitura. Não há reconhecimento sem leitura. Verdade que corre o risco de ser negada em nossa cidade, com o reconhecimento do homem e não de sua produção literária (de reconhecido valor estético).
Futuramente, poderá ser erigido outro monumento ao Caio. Na esquina da Getúlio Vargas com a Rua dos Poetas (em frente à farmácia São João), já existe uma homenagem em "bronze e cimento" ao nosso grande escritor. Sugiro ao vereador que proponha na Câmara a denominação de uma rua com o nome "Caio Fernando Abreu".
Toda homenagem, todavia, deve ser pensada, planejada e executada sem atropelo, com o cuidado de não decair para a vulgarização.
2 comentários:
Prezado Froilam,
Concordo inteiramente com a tua observação. Ninguém aprecia ou dá valor àquilo que não conhece. Enquanto Santiago não conhecer a obra de Caio Fernando Abreu, não poderá dar-lhe o devido valor.
Também participei da homenagem prestada ao Caio no Centro Cultural, em 1996. Foi uma honra estar com ele, mesmo que por alguns momentos.
Abraço,
Nivia
Froilam,
Interessante, ainda quando trabalhava em meu projeto de mestrado, assisti por um semestre disciplina sobre o Caio Fernando Abreu. De fato, quando comecei a preparar o projeto de pesquisa, quis o professor que seria meu orientador, que fosse explorada a homossexualidade como tópico. E era justamente o contrário do que eu queria, pois pretendia dissertar para aquilo que está além da homossexualidade do autor, posto que é universal, e este assunto já havia sido bastante explorado na obra do escritor. Não sei porque motivos, o professor não incentivou mais e terminei trabalhando com Machado de Assis. Colóquios (Inter)Nacionais são boas oportunidades para se estudar, enfatizar e até criar uma agenda turística e cultural para a cidade. Criam interações institucionais e acadêmicas com a cidade. Porque além dos palestrantes, traz também estudantes para apresentarem projetos de pesquisa para serem apresentados em mesas redondas e em grupos de trabalho com subtemas. É muito legal. Fica a sugestão. Gostei da postagem. Meus parabéns.
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