segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

REVEZAMENTO DOS ANOS

A imagem que fazemos do ano que se encerra é de um velho decrépito, incapaz de dar mais uns passos. Entre os sentimentos que temos em relação a ele, não disfarçamos a ingratidão. Decerto não fomos atendidos naquilo que almejamos por ocasião de sua chegada (há exatos 365 dias). Quando não somos ingratos, dispensamo-lo um pouco de piedade, porque, no fundo, relacionamos sua decrepitude ao nosso espírito. Por isso, toda a expectativa pelo novo ano. A imagem deste é produto da nossa imaginação, das nossas esperanças e sonhos. No lugar do velho, que arrasta consigo o peso da realidade, o infante. Tudo o que queremos é a renovação, a leveza. Nossa ingenuidade parece não ter limites durante o rito da passagem. Expressamos sem problemas a fé de que no próximo ano algo muito importante nos será dado de presente. Por alguns instantes, negamos nossa condição essencial de homo faber. Se queremos algo importante, devemos fazê-lo, construí-lo. Não esperar que caia do céu, que brote da terra de alguma semente mágica. O conhecimento disso transcende o rito da passagem, a ilusão de que a vida necessita de ciclos. O desejo de coisas maravilhosas, como uma transformação para melhor em nossas vidas, não se realizará sem o nosso esforço, nosso pragmatismo, nossa ação (cujo projeto é apenas anteposto pelo desejo). Ao longo do próximo ano, façamos por nós (e pelos outros). Dessa forma, ele não envelhecerá tão depressa em nossas mãos (como a refletir nosso espírito cansado, pusilânime). Sua imagem, ao final, será de um jovem corredor, pleno de energia. Assim também teremos o próximo a apanhar o bastão de um revezamento certamente vitorioso para a nossa equipe. 

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