A cada vez que dezembro chega – isso acontece ciclicamente, uma vez ao ano – todos começam a pensar o Natal e, de repente, passam a sentir o Natal. Na semana que antecede essa data, as pessoas são inteiramente envolvidas pela afetividade, pelo sentimento, característica mais saliente do homo religiosus (denominação de Erich Fromm). O mundo em volta parece se tornar melhor, porque assim o está sendo no interior de cada uma delas. Nesse período, ficam mais vulneráveis a tudo, há algo que elas não conseguem identificar se é uma coisa boa, como a fraternidade, ou se é uma coisa ruim, quase uma tristeza. A razão deixou de ser determinante.
Como homem pensante, tenho algo a dizer sobre essa grande festa, protagonizada pelo bom velhinho, notadamente o melhor garoto-propaganda do comércio nestes dias. Os produtos anunciados por ele ganharam o coração dos consumidores, não mais um lugar em que se guardam as lembranças de outro menino, nascido há dois milênios. A contradição se acentua a cada ano que passa entre o discurso pretensamente religioso e o modus vivendi da maioria cristã.
No lugar do presépio, a representar o estábulo em Belém e as cenas que se seguiram ao nascimento do Filho de Deus, é colocada a figura rechonchuda do Papai Noel. No lugar de um retorno à simplicidade, ao desprendimento material, coerente com a doutrina ensinada pelo Mestre, a corrida ao consumismo desenfreado, ao esbanjamento em ceias desnecessárias. A manjedoura já se transformou num Shopping Center, para onde acorre toda gente, no afã de satisfazer uma necessidade artificial, egocêntrica.
Tal contradição tem uma implicância social: crianças e crianças nascem e vivem em completa pobreza, no abandono, perseguidas por mil Herodes da fome e da miséria. Justamente, no momento em que se comemora o Natal dois ensinamentos do Filho de Deus são cinicamente esquecidos, negados: (UM) a despreocupação com o que comer, beber ou vestir; (DOIS) o amor ao próximo.
Encerro minhas palavras com uma exortação: demos de nossa mesa, de nossa despensa, aquele alimento que não nos faz falta. Sabemos onde encontra pessoas que necessitam de alimento. A rua, por exemplo.
Com esse espírito de bondade, tenho certeza que teremos um
FELIZ NATAL
UM FELIZ ANO-NOVO.
Um comentário:
Caro Froilan.
Nesta e na outra sua inferência (logo abaixo), concordo ipses literis, preferindo uma atitude agnóstica contra o gnosticismo vigente no passo da guanxuma.
Um forte abraço.
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