Nos anos oitenta, encontrava-me frequentemente com o Oracy para mostrar-lhe meus poemas, ouvir suas apreciações e tirar algumas dúvidas. Muitas vezes, ouvi o poeta falar em "pé quebrado", em relação ao verso escandido. Com a facilidade que sempre tive de fazer inferências, relacionava o "pé quebrado" com a quebra do ritmo, ou pela falta de uma sílaba, ou pelo excesso.
Armindo Trevisan escreve o seguinte:
"Na poesia clássica, ou seja, greco-latina, a menor unidade de verso era o pé, formado por duas ou mais sílabas, divididas em dois elementos: a tese e a arse. Para os gregos, a tese indicava o tempo forte, no qual se batia o pé (donde procede o nome); e a arse, o tempo fraco, no qual se erguia o pé. Para os latinos, invertiam-se as denominações.
"Transportados para uma língua neo-latina - como o português - os dois termos indicam as sílabas tônicas e as sílabas átonas. Em termos de versificação isossilábica (ou seja, na qual todas as sílabas tem peso igual), os esquemas clássicos podem ser reduzidos a quatro, dois binários e dois ternários".
O ritmo binário pode ser ascendente (jâmbico): a nuvem guarda o pranto. Começa com uma sílaba átona, seguida de uma tônica (o pé). E pode ser descendente (trocaico): paira à tona da água. Começa com uma sílaba tônica, seguida de uma átona.
O ritmo ternário pode ser ascendente (anapéstico): tu choraste em presença da morte. Começa com duas átonas, seguidas de uma tônica. E pode ser descendente (dactílico): formas e ideias eu bebo. Começa com uma sílaba tônica, seguida de duas átonas.
O último verso acima, de Fernando Pessoa, tem um pé em for-mas ei, outro em dei-as eu.
Obviamente, dentro de um mesmo verso é possível as mais variadas combinações desses acentos ou pés. Você pode fazer as suas livremente. Para isso, não há lei nem regra.
Por derradeiro, a unidade rítmica é chamada de pé porque os gregos marcavam o ritmo com o pé, tal como muitos músicos populares de hoje.
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