domingo, 20 de dezembro de 2009

NATAL, OUTRA VEZ

Como articulista do Expresso Ilustrado, este será o sétimo Natal que se apresenta feito mesa farta ante minha fome argumentativa. Há muito a dizer sobre a festa protagonizada pelo bom velhinho, notadamente o melhor garoto-propaganda do comércio nestes dias. Os produtos anunciados por ele ganharam o coração dos consumidores, não mais um lugar em que se guardam as lembranças de outro menino, nascido há dois milênios. O pouco que se sabe do nascimento de Jesus, local e circunstâncias, nega o que os cristãos modernos chamam de “espírito natalino”. A contradição se acentua a cada ano que passa entre o discurso religioso e o modus vivendi, principalmente da maioria católica. No lugar do presépio, a representar o estábulo em Belém e as cenas que se seguiram ao nascimento do Filho de Deus, a figura rechonchuda do Papai Noel. No lugar de um retorno à simplicidade, ao desprendimento material, coerente com a doutrina ensinada pelo Mestre, a corrida ao consumismo desenfreado, ao esbanjamento de ceias desnecessárias. Penso que vem ocorrendo uma fusão entre Natal e Ano-Novo, pela proximidade. Em questão de decênios, ambos farão parte de uma única festa, sem intervalo entre as luzes natalinas e a pirotecnia do rito de passagem. Do que escrevi acima, saliento a contradição, tema recorrente desta Crítica & Autocrítica. Não entendo a facilidade com que as pessoas vivem sem problemas entre o real e a idealização, entre o materialismo inegável e o espiritualismo duvidoso. Elas acabam sendo hipócritas para justificar tais posições contraditórias. É contra a hipocrisia que me insurjo argumentativamente.

(Texto para a próxima coluna do Expresso Ilustrado. Discordo inteiramente de Martha Medeiros, que escreve em sua coluna no Donna: Uma das coisas mais aflitivas para um colunista é escrever sobre o Natal. Por quê? Porque não há tanto assim a dizer sobre Natal...A propósito, fraquinhas as colunas da Martha, do Veríssimo e do Scliar deste domingo. Não as recomendo.)

2 comentários:

Ivan Zolin disse...

Froilam!

Sem hipocrisia não há sociedade organizada.

Zolin

erica disse...

A falta de apoio se deu pela simples falta de tempo. Natal é a mais pura e inegável prova do poder da publicidade e do marketing. Além de triste ainda somos obrigados a participar.

Enfim a vontade é de dormir e acordar em 2010.