Em Paisagem, poema vencedor do VIII Concurso Aureliano de Poesia, Larí Franceschetto faz uso do paralelismo, a grande sacada do ritmo poético de todos os tempos, que imortalizou os Salmos (atribuídos a Davi, listado por Will Durant como um dos dez maiores poetas da humanidade), que daria um estilo inconfundível a Fernando Pessoa, a Carlos Drummond de Andrade, a Carlos Nejar...
A propósito, é de Nejar a melhor definição de poeta que conheço, expressa no Livro de Silbion, Décimo Canto,Construção da Aurora:
"E tu, poeta, encantador de imagens e palavras".
No poema do Larí, "na calçada" (termos que se repetem), mais que uma recorrência paralelística, reporta-nos para o lugar mais público de uma cidade qualquer, onde Robertos, Marias, Cíntias, Carlos, Antônias e tantos outros se encontram conduzidos pela práxis existencial.
O poeta de Veranópolis escreve: "Uma criança na calçada,/ pés descalços, olha a Lua"
E arremata depois: "É madrugada. É inverno."
O leitor, pego de surpresa, indaga se é factível uma criança de pés descalços em plena madrugada de inverno.
O poeta responde: "O mundo continua / miseravelmente / belo".
Mais uma vez, cito Nietzsche, para quem "A existência só se justifica como fenômeno estático".
Larí vê beleza na calçada de uma cidade qualquer, por onde passa um executivo, correndo atrás do negócio; onde uma protistuta negocia o próprio corpo; onde um menino vende "pedaços de sonhos" em cada sonho que vende...
Em Quintanares, também escolhido pela comissão julgadora do concurso, Larí é metapoético ao dialogar com Quintana. É intertextual ao buscar palavras e imagens que povoaram o universo do poeta gaúcho: esquina, varanda, sapato, criança, madrugada, fantasma, louva-a-deus...
Meu amigo da Terra da Longevidade já viveu a experiência de publicar na mesma mídia de Mário Quintana: o Correio do Povo.
A forma como conclui o poema retoma a grandeza que acompanha o sujeito da enunciação poética do poema anterior. Essa grandeza consiste na maneira de ver o mundo, coisas, seres e fatos.
Se há beleza na miserabilidade,
"É preciso ver / com os olhos da alma / e ter fome sempre".
Não a fome físico-química, mas a fome anímica, do coração.
Todo poeta tem um coração (que sofre e ama, e no amor transcende a própria dor).
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