(Texto que sairá amanhã no Expresso Ilustrado)
Alguns leitores desta coluna, conhecidos meus, reclamam que escrevo difícil, usando palavras que exigiriam uma consulta ao dicionário. Suas críticas amigáveis são relevantes para que eu evolua desde o primeiro texto editado neste espaço (12 dez 2003). Elas me forçam a buscar o caminho do meio, entre o popular e o culto. Na condição de um estudioso das linguagens, entre as quais a língua portuguesa, preciso me adequar ao seu principal fundamento: a interação comunicativa. Não é fácil, uma vez que há pessoas recém-alfabetizadas e doutores entre meus leitores. Pergunto-me se Carlos Humberto Aquino Frota, colunista do A Razão nos meados do século passado, tinha esta preocupação de ser compreendido. Penso que ele escrevia para um leitor do meio jornalístico, político, universitário etc. Só uma elite intelectual dispunha do conhecimento de mundo e do mundo de conhecimento (leitura) para compreendê-lo em toda a pujança estilística que o fez um escritor e tanto. Na sua época, outros escreviam coloquialmente para um público maior. Para se saber o nome deles, basta uma pesquisa nos arquivos do jornal. Não estou sendo irônico, insinuando que só a glória me interessa. Outra vez, reporto-me ao caminho do meio (tema recorrente no discurso da minha colega e amiga Lígia Rosso). Ao mesmo tempo em que elimino algo inerente à própria morte com a escrita (conforme Jean Cocteau), não posso me afastar do momento presente, como muitos fazem se refugiando numa “torre de marfim”. Neste âmbito é que vivo, entre pessoas que quero bem, leitores ou não. Antes de ser um escritor, sou um homem.
Um comentário:
Sábias palavras.
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