terça-feira, 29 de dezembro de 2009

HINO NACIONAL (I)

Lendo os blogs nesta manhã, me chama (ou chama-me) a atenção a postagem do Ruy Gessinger, em que o blogueiro transcreve um artigo de Mário Maestri, doutor em História, que critica nosso Hino Nacional. Nenhuma observação quanto à música de Francisco Manuel da Silva, o que infere que o estudioso a aprova (a despeito de não cantar o hino). Não poderia ser diferente, uma vez que ela é extraordinariamente linda.
O "pernosticismo lexical" e o "preciosismo sintático", ele cita, tornam incompreensível a letra para a "imensa maioria da população", que canta o hino em diversos momentos.
Detenho-me (ou me detenho) a analisar o que o autor citado chama de "pernosticismo lexical". Num país em que o analfabetismo (funcional) é um fenômeno mensurável, as palavras "plácidas", "retumbante" e "fúlgidos" da primeira estrofe do Hino Nacional, realmente, são do conhecimento de poucos. Somos uma nação plebeia, comunicamo-nos (ou nos comunicamos) por intermédio de uma linguagem recheada de plebeísmo (baixo calão, gíria e palavras informais). O universo lexical dos brasileiros é reduzidíssimo. Aprende-se (ou se aprende) que o Sol brilha, seus raios são brilhantes, mas não se avança nas outras formas de dizer a mesma coisa: a estrela fulge, seus raios são fúlgidos...
A proposta de Mário Maestri é que seja reescrita a letra do Hino Nacional, devido a algumas palavras cultas e à figura de construção, chamado de hipérbato, que ele classifica como "preciosismo sintático". O hipérbato, que é a inversão da ordem natural das palavras dentro da frase, foi forçado para que o poeta conseguisse o número de sílabas poéticas desejado e, por conseguinte, o ritmo. Na forma direta, ficaria "As margens plácidas do Ipiranga ouviram", com sílabas a mais, ao invés das dez melhor ritmadas de "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas".
Quanto a não saber o significado de uma palavra, como "plácidas" (serenas, tranquilas), penso que é mais fácil ensiná-lo ao povo do que mudar a letra do Hino Nacional.
(Mais tarde, continuarei a escrever sobre esse assunto, para analisar o que é melhor entre DAR EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA AO POVO e TOMAR O POVO COMO REFERÊNCIA LINGUÍSTICA, MESMO SENDO ELE ANALFABETO. Argumento tipo "navalha de Occam".)

Um comentário:

C L Barp disse...

O Hino Nacional(escreví com iniciais maiusculas propositadamente) deveria ser obrigatoriamente matéria curricular de interpretação de texto nas escolas, tamanha é a riqueza nele contida. Não querendo ser preconceituoso, essa idéia de mudar a letra do Hino Nacional só poderia vir de um marxista fanático(ver Mario Maestri no wikpedia)que deseja ver o povo cada vez mais inculto para dele tirar proveito. Parabéns pela postagem, o senhor escreveu aquilo que eu gostaria de escrever.