quinta-feira, 15 de novembro de 2007

CARLOS NEJAR

A poesia de Carlos Nejar é ritmo puro, originalíssima pelo seu teor filosófico, rica por sua vastidão metafórica. Como um todo considerada, épica, lírica e dramática ao mesmo tempo.
O ritmo nesse "encantador de imagens e palavras" não é só conseguido pela recorrência métrica e acentual, mas pela repetição por meio de anáforas e de epíforas (recurso que o aproxima de um Fernando Pessoa).
000
Silbion,
Silbion,
inferno é ter nascido.
Inferno é ter vivido como as plantas.
Inferno é desfolhar-se
lentamente
sem saber onde estamos.
ooo
(Anáfora é a repetição de termos no início do verso.)
000
Eram só pedra de pedra
os deuses eram de pedra,
os homens eram de pedra
na eternidade de pedra

000
(Epífora é a repetição de termos no final do verso.)
oooo
No Livro do tempo, temos o exemplo do belo ritmo nejariano:
O vento lavou as pedras,
mas ficaram as palavras.
O vento lavou as pedras
com sabor de madrugada.
ooo
O vento lavou a noite
mas ficaram as estrelas.
oooo
O vento lavou a noite
com água límpida e mansa.
ooo
Mas não lavou a salsugem.
ooo
O vento lavou as águas,
mas não lavou a inocência
que amadurece nas águas.
ooo
Desespero de horizonte.
Desespero de ser ventre.
Desespero de ser terra.
ooo
Desespero de ser homem
sobre a montanha desnuda.
ooo
Os homens eram sombrios,
esfinges de solidão.
ooo
Os homens eram sombrios.
Quiseram tecer de sonhos
a água verde dos rios.
ooo
Os homens eram amargos.
Quiseram compor o cisne
nas águas verdes dos lagos.
ooo
Os homens eram ardentes
como tochas de amaranto.
Sobre o rosto do poente
deixaram rosas de pranto.
...
Todos os versos com sete sílabas. Acentos que se equilibram entre a segunda, a terceira e a quarta sílabas. A última estrofe, por exemplo:
os / ho / mens / e/ ram / ar / den /... 2 - 4 - 7
co / mo / to / chas / de a / ma / ran / ... 3 - 7
so / bre o / ros / to / do / po / en / ... 3 - 7
dei / xa / ram / ro / sas / de / pran / ... 2 - 4 - 7

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