terça-feira, 7 de julho de 2020

ZECHARIA SITCHIN: O DISPARATADO 12º PLANETA


       No primeiro parágrafo de o 12º Planeta, de Zecharia Sitchin, lê-se:

De todas as provas que acumulamos para apoiar nossas conclusões, a primeira a ser exibida é o próprio homem. De vários modos, o homem moderno, o Homo sapiens, é um estranho à Terra (p. 15).

       Primeiramente, o autor começa a defender suas conclusões (que o leitor não sabe quais são), a citar aquela que seria a prova fundamental: o homem contemporâneo é um estranho à Terra.
       No Prólogo, ele afirmara que os Nefilim, habitantes de um planeta invasor ao Sistema Solar, “criaram o homem na Terra”.
       O parágrafo acima, todavia, servir-me-á para destacar a prova do primeiro disparate (segundo Houaiss (2009), “dito ou ação ilógica, absurda, ou fora da realidade, contrassenso, despautério”).
        Primeiro disparate: o homem contemporâneo é um estranho à Terra. Por que é um disparate? A evolução da vida no planeta é um fato, uma verdade comprovada pela ciência. Por volta de sete milhões de anos, uma pequena variação genética dividiu uma espécie ancestral em duas: chimpanzé e homem. Não o homem como o conhecemos no presente, senão uma criatura do mesmo gênero.
       A genética entre chimpanzé e homem é semelhante em 99%, o que causa um problema sério à tese de Sitchin. Por que o homem teria vindo de outro planeta, e o chimpanzé não? Na hipótese da variação genética entre os dois ser administrada pelos Nefilim, por que as variações entre as outras espécies ocorreriam por fatores aleatórios?
       A referência do chimpanzé leva em conta a maior proximidade, mas a semelhança continua em grau cada vez menor dentro da ordem dos primatas. Na sequência, também os gorilas, os orangotangos, os gibões, os macacos do velho mundo, ab origine.
       No terceiro parágrafo, Sitchin pergunta

Se tudo começou através de uma série de reações químicas espontâneas, por que é que a vida na Terra tem uma única fonte e não uma multitude de fontes causais? E por que é que toda a matéria viva na Terra contém tão poucos dos elementos químicos que abundam na Terra e tantos daqueles que são raros em nosso planeta?

       Quem se encanta a priori com a hipótese estapafúrdia de Sitchin e ignora completamente a evolução biológica não se dará conta desse segundo disparate.
       O dizer que a vida na Terra tem “uma única fonte” causal é falacioso, na medida em que há uma multitude de fontes. O argumento de que a matéria viva contém tão poucos elementos químicos que abundam na Terra é uma inverdade, impossível de ser minimizada como falácia.
       O corpo humano, por exemplo, compõe-se quase inteiramente dos elementos que mais abundam no planeta: Oxigênio, Carbono, Hidrogênio e Nitrogênio. Em menor proporção, incluem-se Sódio, Fósforo, Cálcio, entre outros. Quais os elementos raros?  
       Ao virar a página, lê-se

Depois, súbita e inexplicavelmente, há 35.000 anos, uma nova raça de homens – Homo sapiens (“o homem pensante”) – apareceu como que vinda do nada e varreu o Homem de Neanderthal da face da Terra.

       O terceiro disparate é a expressão “súbita e inexplicavelmente”, somada à datação de 35.000 anos antes do presente. Não somo aqui o desaparecimento do neanderthal, ainda não provado inteiramente.
       Aparição súbita do homo sapiens? Segundo DIAMOND (2010), a última espécie do gênero homo surgiu há 500 mil anos na África, de onde saiu entre 100 e 70 mil anos, para dominar o planeta. Inexplicavelmente? O Homo sapiens vindo do nada? Eles avançavam há mais de 30 mil anos, desde que, saindo da mãe-África, tomaram os continentes a leste, norte e oeste. O encontro com o neanderthal era previsto, explicável. O longo caminho da África à Europa não pode ser simplificado como nada.
       No capítulo 12, todavia, Sitchin escreve:

O homem é o produto da evolução; mas o homem moderno, Homo sapiens, é o produto dos “deuses”, uma vez que, em algum lugar há cerca de 300.000 anos, os Nefilim tomaram um homem-macaco (Homo erectus) e implantaram nele sua própria imagem e semelhança (p. 312).

       O Homo sapiens é resultado de uma mutação provocada pelos Nefilim. Sem dúvida, esse é o maior disparate do livro todo. O homem é produto da evolução, mas o homo sapiens não. Se os Nefilim criaram a espécie há 300 mil anos, malgrado terem aterrissado há 450 mil, por que o homo sapiens viria do nada há 35 mil anos (conforme citação acima)? Afinal, Sitchin vê ou não vê diferença entre o homo sapiens e o homem moderno?
       Quem são os Nefilim? De que planeta eles são naturais? Os alienígenas seriam criaturas muitíssimo inteligentes, oriundos do planeta Marduk, que teria uma órbita absurdamente excêntrica, completada em torno do Sol a cada 3600 anos. Esse planeta, diga-se de passagem, nunca foi observado pelos potentes telescópicos (capazes de detectar estruturas celestes a 12 bilhões de anos-luz).  
       Os disparates são às centenas, a exigir um trabalho extenso para destacá-los criticamente. Mesmo assim, Sitchin conta com adeptos espalhados pelo mundo todo (tão convencidos quantos os terraplanistas).

REFERÊNCIAS
DIAMOND, Jared. O terceiro chimpanzé; tradução Maria Cristina Torquilho Cavalcanti. – Rio de Janeiro: Record, 2010, p. 46.

HOUAISS. Dicionário da Língua Portuguesa.
SITCHIN, Zecharia. O 12º Planeta; tradução de Ana Paula Cunha. São Paulo: Editora Best Seller, 1978.

Nenhum comentário: