Os contos de fada narravam a violência
entre bichos e humanos, entre humanos e seres imaginários. Entre o mau e o bom,
entre o bem e o mal. Por uma injunção moral, fazia-se justiça, e a história
tinha um final feliz.
Noutras palavras, tem razão o personagem
do romance O gênio e a deusa, de
Aldous Huxley:
– O mal da ficção – disse John Rivers –
é que ela faz sentido demais. A realidade nunca faz sentido.
A realidade não faz sentido, prossigo
por minha conta, em vista de sua injustiça contra a vida.
Júlia Rosenberg era uma jovem linda,
inocente, estudante de veterinária (profissão que requer atenção especial aos
bichos não humanos), que caminhava numa trilha entre as praias Paúba e Maresia,
no litoral de São Paulo.
Todavia,
à espreita de Júlia, havia um homem com aparência normal. Não era um animal,
não era uma criatura teratológica, não era um demônio, mas apenas um homem.
Um homem apenas, que a ficção jamais soube descrevê-lo em
sua crueldade. Um monstro, que nem a barbárie foi capaz de produzir, mas uma
civilização à beira da loucura.
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