sexta-feira, 10 de julho de 2020

JÚLIA E O MONSTRO


        Os contos de fada narravam a violência entre bichos e humanos, entre humanos e seres imaginários. Entre o mau e o bom, entre o bem e o mal. Por uma injunção moral, fazia-se justiça, e a história tinha um final feliz.
        Noutras palavras, tem razão o personagem do romance O gênio e a deusa, de Aldous Huxley:
        – O mal da ficção – disse John Rivers – é que ela faz sentido demais. A realidade nunca faz sentido.
        A realidade não faz sentido, prossigo por minha conta, em vista de sua injustiça contra a vida.
        Júlia Rosenberg era uma jovem linda, inocente, estudante de veterinária (profissão que requer atenção especial aos bichos não humanos), que caminhava numa trilha entre as praias Paúba e Maresia, no litoral de São Paulo.
         Todavia, à espreita de Júlia, havia um homem com aparência normal. Não era um animal, não era uma criatura teratológica, não era um demônio, mas apenas um homem.
Um homem apenas, que a ficção jamais soube descrevê-lo em sua crueldade. Um monstro, que nem a barbárie foi capaz de produzir, mas uma civilização à beira da loucura.

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