O
filósofo da Antiguidade verdadeiramente grande foi Protágoras, malgrado a
avalanche de críticas dirigida contra ele por todos os pensadores, que
repercutem os antissofistas Sócrates e Platão.
Em tempo pós-moderno, também caracterizado
pelo relativismo, o nome de Protágoras é citado com frequência, como prova de
que cada pessoa (e sua interpretação de seres, coisas e fenômenos) é
depositária da verdade.
Karl Popper me abriu os olhos para esse
reducionismo histórico sobre o pensamento de Protágoras. O homo mensura – “o
homem é a medida de todas as coisas” – não pode ser interpretado como se cada
um, em separado, pudesse ser o detentor da verdade. Segundo Popper, não é só
isso.
A filosofia teve origem como uma
proposta racional de acabar com o mito, com a deificação da natureza. Com
exceção de Marx, Nietzsche, Freud e os
neoateístas contemporâneos, os pensadores continuam a acreditar numa divindade,
num absoluto de todas as medidas. Entre eles, Parmênides e Platão são radicais
defensores de que só os deuses possuem conhecimento.
Não há relativismo no argumento de
Protágoras, mas a especificação de que “o conhecimento humano deve ser tomado
como nosso padrão”, uma vez que “nada sabemos sobre os deuses”. As ciências,
por exemplo, constituem o corpus de
conhecimento elaborado pela razão.
Protágoras rompe com
a fabulação anterior, que foi ab origine
o grande propósito da filosofia, o de dar ao homem a autêntica e definitiva
autonomia.
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