sexta-feira, 12 de julho de 2019

BRASIL POP


BRASIL POP

         A cultura musical predominante no Brasil é popular. Para ser bem-sucedido, o artista vai aonde o povo está. O senso comum, por sua maioria açambarcante, determina o que roda nas mídias. No último mês, a canção mais ouvida no Brasil é Todo mundo vai sofrer, da funkeira Marília Mendonça.
         Até há cinco minutos, não ouvira essa artista popular, nem por descuido ao zapear no rádio e da televisão, ou acessar algumas plataformas digitais.
         A letra de Todo mundo vai sofrer é paupérrima, de uma simplicidade piegas, muito semelhante a tudo o que viceja midiaticamente no país. O Google me apresenta o poema seguinte:

A garrafa precisa do copo
O copo precisa da mesa
A mesa precisa de mim
E eu preciso da cerveja

Igual eu preciso dele na minha vida
Mas quanto mais eu vou atrás
Mais ele pisa
Então já que é assim
Se por ele eu sofro sem pausa
Quem quiser me amar
Também vai sofrer nessa bagaça

Quem eu quero não me quer
Quem me quer não vou querer
Ninguém vai sofrer sozinho
Todo mundo vai sofrer

         Pelo viés gramatical, o texto é verborrágico (notadamente o refrão), ao gosto dos usuários da língua inculta. Pelo viés poético, não há ritmo algum; exceto a personificação da garrafa, do copo e da mesa, nenhuma figura de linguagem.
          Uma análise do conteúdo, melhor do que a forma, demonstra a pobreza que caracteriza a música popular brasileira. O tema não poderia ser mais adequado: o sentimento de quem foi traído ou deseja algo que não pode ser seu, reconhecido pela expressão chula “dor de corno”. A novidade pouco romântica, de que “ninguém vai sofrer sozinho/ todo mundo vai sofrer”, lava a alma do desprezado, conquista a galera e salva a produção artística.
         Uma pessoa dotada de caráter nobre, com o mínimo de amor próprio, não corre atrás de quem a despreza, tampouco se vinga em inocente (ao arrastá-lo para infortúnio semelhante). O eu-lírico revela uma fraqueza diametralmente oposta a qualquer sucesso na empresa de controlar o próprio querer, a própria vontade.
         A predominância do pop no Brasil ocorre pela falta de uma cultura mais refinada, impedida de se desenvolver por (des)razões várias, como o analfabetismo, a política, o mercado...   

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