O queixume de que o
mundo atual é o pior dos mundos possíveis ganha uma dimensão epidêmica (que
ameaça a saúde integral das pessoas atingidas pelo meme viral). Pari passu com um excesso de sensibilidade,
denuncia-se uma debilidade moral, misto de cansaço e medo – por trás da queixa
sistemática.
Depois da vida, cujo valor é incomensurável, a liberdade
constitui a prerrogativa fundamental do ser humano. Ela pode servir de
referência de como o mundo contemporâneo é imensamente melhor que os mundos
passados. Como apoio, eis o que escreve Domenico de Masi:
Se pensarmos
bem, o progresso nada mais é que um longo percurso da humanidade rumo à libertação
deliberada da fadiga física, em primeiro lugar, e do estresse intelectual, em
segundo. Das origens da nossa história até a Idade Média, o homem conseguiu
conquistar a libertação da escravidão. Da Idade Média até a primeira metade do
século XX, libertou-se da fadiga. Desde a Segunda Guerra Mundial, visa à
libertação do trabalho em si.
O boom tecnológico
das últimas décadas, com a máquina a realizar o trabalho de um número cada vez
maior de mãos e mentes, tem propiciado um aumento do tempo livre. Novo problema:
o que fazer com o tempo livre? Agora o homem não sabe ou não decide como
usufruir fora do trabalho. Seu comportamento por omissão permite o
preenchimento de uma agenda atribulada, onde toda liberdade é zerada pelas
próprias escolhas.
Nesse mundo em que a liberdade conquistada se perde, em
razão do moral baixo, da falta de coragem e discernimento, o discurso
recorrente aponta para mundos outros (onde o mito do paraíso perdido ainda faz
sentido). O presente sofre uma depreciação injusta, doentia.
MASI, Domenico De. Uma simples revolução; tradução de
Yadyr Figueiredo. Rio de Janeiro: Sextante, 2019, p.74.
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