O livro Uma simples revolução, de Domenico De Masi, compõe-se de oitenta e
um capítulos curtos, de alguma forma conectados à ideia principal: trabalho,
ócio e criatividade.
Em 2999 (terceiro capítulo), De Masi
avança sua análise sociológica em um milênio, para nos apresentar a “civilidade
ociosa”. Segundo ele, “a introspecção, a amizade, o amor, a brincadeira, a
beleza e a convivência têm, enfim, prevalecido sobre as lutas por poder,
dinheiro e posse de bens materiais”.
Na passagem do terceiro ao quarto milênio,
o homem terá a cabeça mais desenvolvida, em razão de teletrabalhar, tele-estudar,
teledivertir-se e teleamar – o que o incapacitaria de
executar um passo de dança. Por que não teledançar?
Por trás da ficção científica,
assoma-se um gigantesco otimismo – profissão de fé em De Masi. Sua “civilidade”
do ócio criativo constitui a primeira utopia pós-industrial. Como seria
possível uma era de introspecção, amizade, amor, ludicidade, beleza e
convivência depois de um “cataclismo biotecnológico”, que aconteceria no século
XXV?
De Masi se junta a Platão, Al-Farabi,
Thomas Morus, Tommaso Capanella, Étienne Cabet, H.G. Wells, Italo Calvino, Gene
Roddenberry (criador de Star Trek), entre muitos outros idealistas.
Antes de superestimar uma era de
ociosidade, baseada na ociosidade incipiente do último meio século, o sociólogo
interpõe o que seria uma solução de continuidade: o cataclismo biotecnológico
(já citado acima). Exceto que esse acontecimento terrível destruiria os bancos
de dados da história humana desde o ano 2000 (com o registro eletrônico),
nenhuma palavra a mais.
Não obstante o pessimismo com que
antevejo nosso futuro, essa solução de continuidade me parece mais factível e
influente. Outra coisa: o homem viveu – e vive – sua parcela de introspecção,
amizade, amor, beleza, convivência...
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