A igreja de Notre Dame foi
atingida por um incêndio na semana passada. Suas gárgulas horrendas, com a
função de vomitar água, aspiraram fogo, elemento mais violento (mítico e
historicamente associado ao castigo, à purgação).
Antes
de acabar o rescaldo, pessoas de diferentes partes do globo passaram a fazer
doações milionárias para a recuperação da catedral famosa. O presidente da
França falou no local em criar um fundo nacional (e além-fronteiras) com o
mesmo objetivo. Dificilmente, ele poderá usar dinheiro público, o que
provocaria o recrudescimento dos “coletes amarelos”. Nenhuma palavra da
riquíssima Igreja Católica – a propósito.
A
reação de franceses, no entanto, já revela características pós-modernas, como a
perda da aura do objeto artístico (segundo Walter Benjamin). O último discurso
é de um humanismo radical: gente é mais importante que obras de arquitetura,
escultura, pintura ou símbolos religiosos. Os problemas sociais estão a exigir
maior atenção que as produções culturais. A parte superior de Notre Dame,
diga-se de passagem, serviu de residência para Quasimodo, o corcunda romanceado
por Victor Hugo.
A
liberdade, um dos grandes ideais iluministas, assegura aos doadores privados a
justificativa de seu mecenato. Mesmo assim, eles não estão livres de crítica,
desde que estas não involuam para ameaça ou atentado.
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