segunda-feira, 22 de abril de 2019

NOTRE DAME: UM SÍMBOLO DA SOLIDEZ


A igreja de Notre Dame foi atingida por um incêndio na semana passada. Suas gárgulas horrendas, com a função de vomitar água, aspiraram fogo, elemento mais violento (mítico e historicamente associado ao castigo, à purgação).
         Antes de acabar o rescaldo, pessoas de diferentes partes do globo passaram a fazer doações milionárias para a recuperação da catedral famosa. O presidente da França falou no local em criar um fundo nacional (e além-fronteiras) com o mesmo objetivo. Dificilmente, ele poderá usar dinheiro público, o que provocaria o recrudescimento dos “coletes amarelos”. Nenhuma palavra da riquíssima Igreja Católica – a propósito.
       A reação de franceses, no entanto, já revela características pós-modernas, como a perda da aura do objeto artístico (segundo Walter Benjamin). O último discurso é de um humanismo radical: gente é mais importante que obras de arquitetura, escultura, pintura ou símbolos religiosos. Os problemas sociais estão a exigir maior atenção que as produções culturais. A parte superior de Notre Dame, diga-se de passagem, serviu de residência para Quasimodo, o corcunda romanceado por Victor Hugo.
         A liberdade, um dos grandes ideais iluministas, assegura aos doadores privados a justificativa de seu mecenato. Mesmo assim, eles não estão livres de crítica, desde que estas não involuam para ameaça ou atentado.

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