A ignorância natural é compreensível, como a que
caracteriza toda criança. A ignorância condicionada é inaceitável, como a que persiste
na caracterização da maioria dos adultos.
Dois mil e quatrocentos anos antes do presente,
Platão criou a Alegoria da Caverna, para ilustrar o estado de ignorância. A
ilustração continua válida hoje. Independentemente de todo avanço filosófico e
científico, pouca gente se liberta das correntes no fundo da caverna, para sair
dela por um caminho íngreme e conhecer a luz.
A ilusão sustentada por preconceitos e crenças ainda
prevalece sobre a realidade, cuja superação exige um mínimo de conhecimento. A
aventura dessa evolução é possível.
Entre os conhecimentos exigidos para uma instrução transformadora,
inclui-se a História. Com base na experiência pessoal, sugiro que se comece com
a leitura (estudo) sobre a Suméria, os primeiros passos dados pela nossa
civilização no Neolítico. Na Mesopotâmia, teremos a explicação de como e por
que o homem, por exemplo, criou deuses e organizou uma religião em torno dessa
criação antropomórfica.
Em seguida, minha sugestão é a Biologia, a começar
com a leitura atenta de A origem das
espécies, de Charles Darwin. Dentro da caverna, o ignorante continua a
opinar sobre o que não compreende, fazendo-o com o desdém do tipo “uvas verdes”.
O estudo se deve demorar com outros biólogos que esclareceram sobre a evolução
da vida depois de Darwin. Lista sugerida: Aleksandr Oparin, Desmond Morris, Ernst
Mayr, Jared Diamond, J.B.S. Haldane, Richard Dawkins, Stephen Jay Gould, Theodosius
Dobzhansky, entre outros.
Caso História e Biologia não forem suficientes,
outros conhecimentos propiciam ao homem a instrução necessária para se libertar
da caverna: Física, Psicologia, Filosofia... Entre os filósofos, destaco Francis
Bacon, David Hume, Spinoza, Kant, Voltaire, Schopenhauer, Nietzsche, Rudolf
Carnap, Lévi-Straus, Luk Ferry, Michel Onfray e Comte-Sponville.
Em todas as áreas do conhecimento, penso que os
pensadores mais recentes dispõem de dados mais atualizados em que fundamentar
suas ideias. Isso não pressupõe que se deve descartar todos os que vieram antes
de Nicolau Copérnico, simplesmente porque eram geocentristas. Da mesma forma,
preterir todos os cientistas que vieram antes de Darwin, uma vez que não
conheciam a Teoria da Evolução. Antes de Freud, porque desconheciam o
inconsciente. A História, para ilustrar, continua a ser construída à medida que
novas descobertas arqueológicas são realizadas. Muito do mundo dentro e fora do
homem ainda será conhecido, cito a cosmologia e a neurociência.
Certamente, o estudioso não evolui apenas com o conhecimento
estabelecido. Ele deve viver intensamente e treinar seu espírito na observação da
realidade fora e dentro de si.
O humanismo desenvolvido ao longo das últimas
décadas me exige a ação de retornar à caverna (conforme Sócrates sugere a
Glauco no diálogo de A República),
para convencer meus semelhantes mais queridos a se libertarem da ilusão. Falta
de respeito ou consideração (de que sou acusado algumas vezes), seria
exatamente o contrário do que faço, isto é, permanecer egoística e
silenciosamente numa zona de conforto, sob a luz meridiana. Para ficar num meio
termo, decido-me pela escrita como estratégia para evitar o face a face.
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