O
que é a fé? Houaiss assim define em seu Grande
Dicionário: “confiança absoluta (em alguém ou em algo)”. Confiança é
sinônimo de crença. Etimologicamente, a palavra se origina do grego “pistia”
(acreditar) e do latim “fides” (ser fiel).
Você
concorda com a definição de Houaiss?
Sim?
Não?
Ao
considerar a afirmação, a próxima pergunta é óbvia: em quem ou em que a fé está
direcionada.
Os
objetos de fé perfazem uma relação tão extensa quanto o número de coisas e
seres existentes (ou imaginados).
Para
abreviar a inquirição, você concorda que Deus encima essa relação?
O
sim é condição para seguir em frente.
Tribos,
povos, civilizações se constituíram historicamente em torno da crença num deus
ou deuses.
Disso
não há negação.
Sobre
a fé ainda. Há diferença entre a fé de alguém que viveu há mais de três mil
anos e a fé de outro nosso contemporâneo? Há diferença entre a fé de Aquenáton,
o primeiro homem a crer num deus único, e a do papa Francisco (também crente
num deus único)?
O
deus de Aquenáton era Aton, também chamado de Deus – uma vez que era único. O
deus de Francisco é Jeová, que os evangelizadores cristãos passaram a chamar de
Deus – pelo mesmo motivo anterior.
Aton
era um deus diferente de Jeová (deixando de existir com o fim da civilização
egípcia)?
Ou
Aton e Jeová são nomes para designar o mesmo deus (que estaria muito acima de
cada cultura)?
Você
compreende a verdadeira extensão desses questionamentos?
O
primeiro, se afirmativo, pressupõe que Jeová também terá o mesmo destino de
Aton com o fim do Cristianismo.
O
segundo, se afirmativo, fica demonstrado que Deus, ou não passa de uma
representação, ou é inominável.
Na
época de Aquenáton, quem teria coragem de sustentar a não existência de Aton? Isso
era inconcebível diante do representante divino na Terra: o próprio Faraó.
Tal
manifestação de ateísmo, todavia, seria atemporalmente verdadeira: Aton não
passava de uma representação para a crença dos egípcios no tempo de Aquenáton.
Na
Idade Média, o ateu que sustentasse a não existência de Jeová era queimado em praça
pública (pelos representantes do deus cristão). Hoje o ateu não corre o risco
da execução, mas continua discriminado pela sociedade a que pertence.
Há
muito me questiono: o papa realmente acredita no deus bíblico?
Futuramente,
alguém constatará que esse deus constituiu um dos grandes mitos orientadores de
uma religião que dominou a civilização ocidental.
Teólogos
e (alguns) filósofos tentaram provar a existência de deus com argumentos
pretensamente lógicos. Santo Anselmo é um dos mais conhecidos nesse mister. A
maioria dos filósofos e (alguns) cientistas tentam provar a não existência de
deus da mesma forma, por intermédio de argumentos racionais.
Por
que não partir da experiência? Quantos deuses já foram motivo de fé? Deuses que eram considerados existentes
por aqueles que o cultuavam: Osíris, Amon, Zeus, P’an Ku, Odin, Tupã, ad
nauseam. Todos eles desapareceram, foram desmitificados.
Por
que apenas Brama, Jeová, Alá, entre outros, são deuses vivos?
A
fé os alimenta.
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