Do apartamento 201,
Edifício Dom Manuel, vejo a primeira claridade do sábado destacar o quadro da
janela que me acorda para mais um dia.
As luzes da rua se apagam no exato
momento em que a agência bancária se ilumina internamente.
O ruído dos
automóveis quase que desaparece, permitindo-me ouvir o canto de alguns pássaros
(lá fora) e o bater do coração (aqui dentro).
Nenhum resíduo de vozes humanas.
Ao abrir as cortinas, constato que os notívagos já foram para casa. Suas
presenças, todavia, continuam demarcadas pela esteira de garrafas vazias sobre
a calçada. Um filete de cerveja parece fluir junto ao meio-fio, ligando duas
lojas de conveniência.
Uma das impressões fenomênicas suscitadas pelo cenário,
leva-me a comparar esses notívagos aos vampiros (seres popularizados pela
mítica cinematográfica que fogem da luz solar).
A aparente vantagem de
consumirem álcool, ao invés de sangue, acaba se constituindo num terror
verdadeiro, porque real: a juventude sendo consumida pela droga.
Mais tarde, aqueles
que já não serão jovens acordarão para a vida – como o faço nesta manhã de
sábado.
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