sexta-feira, 20 de março de 2015

BAUMAN: UM ESTOURO




Zygmunt Bauman é um estouro como pensador da pós-modernidade (hipermodernidade, para Giles Lipovetski, consequência sociológica inevitável da modernidade, para o próprio Bauman, que ele prefere chamar de "líquida").
Hoje estou lendo O mal-estar da pós-modernidade (página 114). Eis uma prova: "No jogo da vida dos homens e mulheres pós-modernos, as regras do jogo não param de mudar no curso da disputa. [...] A determinação de viver um dia de cada vez, e de retratar a vida diária como uma sucessão de emergências, se tornaram os princípios normativos de toda estratégia de vida racional. Manter o jogo curto significa tomar cuidado com os compromissos a longo prazo. Recusar-se a 'se fixar' de uma forma ou de outra. Não se prender a um lugar, por mais agradável que a escala presente possa parecer. Não ligar a vida a uma vocação apenas. Não jurar coerência e lealdade a nada ou a ninguém. Não controlar o futuro, mas se recusar a empenhá-lo: tomar cuidado para que as consequências do jogo não sobrevivam ao próprio jogo e para renunciar à responsabilidade pelo que produzam tais consequências. Proibir o passado de se relacionar com o presente. Em suma, cortar o presente nas duas extremidades, separar o presente da história. [...] Aplanar o fluxo do tempo num presente contínuo. [...] O eixo da estratégia de vida pós-moderna não é fazer a identidade deter-se - mas evitar que se fixe. A figura do turista é a epítome dessa evitação".
Interessante o que ele escreve sobre o turista (eu já havia pensado algo semelhante): 
"Os turistas realizam a façanha de não pertencer ao lugar que podem estar visitando: é deles o milagre de estar dentro e fora do lugar ao mesmo tempo. [...] Viajando despreocupadamente, com apenas uns poucos pertences necessários à garantia contra a inclemência dos lugares estrangeiros, os turistas podem sair de novo a caminho, de uma hora para outra, logo que as coisas ameaçam escapar de controle, ou quando seu potencial de diversão parece ter-se exaurido, ou quando aventuras ainda mais excitantes acenam de longe".
Há pouco o carteiro me entregou o quinto livro de Bauman: Vida líquida
Os outros três (que já li): Ensaios sobre o conceito de cultura, A arte da vida e Ética pós-moderna

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