Não
parece que faltam tão somente quarenta e poucos dias para o início
da Copa do Mundo de Futebol.
Não parece que o evento, tão festejado
pelos entusiastas desse desporto, acontecerá no Brasil.
Isso é
surpreendente.
As lembranças da derrota brasileira em 1950, as quais
justificam o recalque na consciência coletiva deste país, não me
impedem de imaginar a grande expectativa vivida por aqueles que
aguardavam a realização do evento.
Certamente, a paixão que
caracterizava os expectantes ainda tinha a inocência da primeira
vez, sem a banalização midiática, o interesse financeiro, a
projeção política, o glamour instituído pela Fédération
Internationale de Football Association (FIFA), entre outros fatores
escusos (das últimas duas décadas).
Sessenta e quatro anos depois,
surpreende-me que o estado de espírito dos brasileiros tenha
adquirido certo amargor e criticidade próprios de uma madureza
forçada, antes do tempo.
Em alguns indivíduos, todavia, esse
amadurecimento precoce corre o risco de desviá-los para a repulsa,
para a agressividade ou para o ódio, ao invés da estoica
indiferença.
Tais sentimentos negativos encontram-se na origem dos
discursos e das manifestações de rua avessos à realização da
Copa no Brasil.
Independentemente do êxito ou do fracasso da seleção
Canarinho, ideias e ações poderão balançar as frouxas estruturas
que mantêm nossa sociedade mais ou menos feliz.
Os desapaixonados,
entre os quais me incluo, somos responsáveis pela falsa aparência
de que tudo está como dantes no país de Arantes (do Nascimento).
Isso mudará, não há dúvida, daqui a quarenta e poucos dias,
quando os brasileiros sofrerão uma recaída verde-amarela*.
*
Johan Huizinga escreve que o homo ludens sempre se coloca ao lado e
um pouco abaixo do homo sapiens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário