sábado, 2 de fevereiro de 2013

IRRESPONSÁVEL

Na condição de indivíduo, o brasileiro é irresponsável. Basta se envolver num acidente, para não assumir sua responsabilidade. Ato contínuo, culpa um terceiro, geralmente uma instituição (a que pertence pelo princípio de universalidade). 
Exemplo:
A ponte sobre o Rosário, na estrada que leva ao Passo da Cruz, esteve a beira de ir água abaixo por muito anos. Algumas vezes, ao chegar lá, o rio fustigava-a com violência. Minhas opções: atravessá-la mesmo assim, esperar duas ou três horas (o rio baixar) ou dar meia volta. Desnecessário dizer que fiz as três coisas em vezes diferentes. Nunca me aconteceu um acidente. Mesma sorte não tiveram outras pessoas, dentre as quais meu avô, que acabou arrastado pela correnteza. 
Desde que me conheço por gente, não foram poucas as reclamações dos usuários da estrada para que o poder público municipal construísse uma nova ponte. Em vésperas de eleição, os candidatos prometiam a obra.
Meu avô se salvou agarrado à sua montaria. Naqueles anos setenta, mesmo que ele morresse afogado, ninguém pensaria em culpabilizar o poder público (que deixara de refazer a ponte). A responsabilidade caberia exclusivamente ao afogado e pronto. 
Hoje isso é impensável. O cidadão (maior de idade) deixou de ser responsável por si mesmo. A impressão é que ele, não tendo noção alguma de que a ponte está prestes a ir água abaixo, inconsciente, decide-se pela travessia.
P.S.: O termo ponte é empregado nos dois sentidos, real e figurado.    

Um comentário:

Sonaira disse...

Ao fazer a leitura, lembrei das inúmeras vezes que passávamos com a água batendo na metade do caminhão. Um horror. Muito bem apontado, Froilam!