Até
os anos setenta, Fermino Machado de Oliveira manteve um costume de que todos
gostávamos no rincão. No dia de seu aniversário, 31 de outubro, fazia um grande
churrasco e convidava meio mundo para a festa. Alguns descendentes ou amigos
especiais vinham de outros lugares e se juntavam aos demais, numa felicidade
sem tamanho. Uma enfermidade demorada e a morte do meu avô (1977), todavia,
encerrou um ciclo da história do Rincão dos Machado. A comunidade, unida por
laços sanguíneos e de amizade, sentiu a falta de uma autoridade (da forma como
exercera até então o velho Fermino). A casa da vó Dorilda continuou sendo o
coração que palpitava mais fortemente nas tardes de domingo, quando ali se
reuniam as mulheres e as crianças. Tio Ladi, o mais velho dos filhos, conduziu
o inventário sem descontentamentos. Nas décadas seguintes, a luz elétrica, o
automóvel, a televisão, o telefone, a água encanada e uma série de outras
melhorias se tornaram realidade. Mesmo assim, os jovens vieram para a cidade
estudar ou casaram-se, reduzindo os moradores no rincão. Outras pessoas partiram
para sempre, deixando um vazio afetivo impreenchível, entre as quais a vó
Dorilda. Novo inventário. Esse fato social demarca o início de uma nova
história para o rincão, feita de orgulho, teimosia, intransigência, disse-me-disse,
inimizade. Inimizade entre irmãos. Por alguns metros de terra os mais fortes se
enchem de raiva, os mais fracos se deprimem, e a briga passa a incomodar até aqueles
que não participam dela. A princípio, pensei em retomar o costume do meu avô,
reunindo os parentes, oferecendo-lhes um churrasco (como já fiz há quatro
anos). No entanto, concluí que não no fim de semana passado. Voltei para a
cidade profundamente triste, impotente para fazer qualquer coisa (à exceção
deste desabafo).
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