Há
dois milênios, um pregador judeu exortava seus ouvintes para que amassem uns
aos outros. Ele falava uma verdade transcendente, por isso o crucificaram. Não
era hipócrita, ao contrário daqueles que continuam a pregar em seu nome. O
homem vulgar, fiel representante da sociedade a que pertence, não se interessa
por transcendência alguma, por algo que vai além do próprio ego. As verdades,
os valores que o motivam a viver são delimitados por essa condição humana,
demasiado humana. Ele pode até dizer, sustentar discursivamente o contrário,
que gosta de seu semelhante, todavia, não faz o necessário para manter a
coerência entre palavra e atitude, entre ideal e realidade. A parte mais
sensível desse homem não é o coração, como querem os românticos, mas o bolso
(ou a bolsa). Por que se diz que a sociedade é consumista? Porque o homem é
consumista, incontrolavelmente consumista. O dinheiro o faz regredir à fase
oral do desenvolvimento de sua personalidade, quando o id (antes do ego) se
manifesta de forma absoluta. Segundo Freud, o id busca a satisfação imediata, de acordo com o princípio do
prazer. Do id ao superego vai uma distância que poucos conseguem completar. O superego é a instância psicológica em
que se desenvolve o senso moral, bem como a alteridade (ou outridade). Para
quem não conhece a teoria psicanalítica, o id
corresponde ao “eu quero tudo para mim”; o superego,
ao “meu direito termina onde começa o do outro”. A dicotomia pode ser expressa
por querer incondicionalmente – saber. A sabedoria não é inalcançável a partir
do autoconhecimento. A propósito, mais do que dizer que gosta, o hipócrita
pensa que sabe muito sobre o outro, mas não conhece a si mesmo. Se não conhece
a si mesmo, tampouco ama a si mesmo.
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