A República, de Platão, fecha-se com a transcrição do Mito de Er. O personagem Sócrates narra a Glauco:
"Não é a história de Alcino que vou te contar, mas a de um homem valoroso: Er, filho de Armênio, originário de Panfília. Ele morrera numa batalha; dez dias depois, quando recolhiam os cadáveres já putrefatos, o seu foi encontrado intacto. Levaram-no para casa, a fim de o enterrarem, mas, ao décimo segundo dia, quando estava estendido na pira, ressuscitou. Assim que recuperou os sentidos, contou o que tinha visto no além".
A partir de então, Er relata um lugar semelhante ao purgatório cristão, uma encruzilhada de almas que subiam para o Céu ou desciam para o Hades. Na sequência, passa a transcrever o que as almas contavam do Céu e do Hades.
A narrativa toda poderia ser tomada como da crença cristã, da vida além da morte, tanto no Céu quanto no Inferno.
Curioso, fui buscar na Bíblia as passagens em que o inferno é citado. Qual a minha surpresa? Muito vagamente, encontrei apenas cinco citações do seol no Velho Testamento e cinco do Hades no Novo Testamento.
Seol é a forma portuguesa do hebraico she'óhl, que significa sepultura comum, cova; e hades, do grego haídes, com o mesmo significado. Em Isaías 38:18,19, seol é poço, algo em que decai a alma.
Nenhuma das outras quatro citações do VT se refere a fogo, metáfora do inferno no Mito de Er. No NT, em contrapartida, o inferno é descrito como fogo eterno (Mt 25:41,46).
Penso que houve uma influência grega, neoplatônica, na idealização do cristianismo. Não apenas linguística, mas em elementos míticos.
Em sua segunda viagem, Paulo de Tarso (já acompanhado por discípulos)) permaneceu algum tempo na Grécia. Em Corinto, foram 18 meses.
Sob o domínio romano, os gregos viviam a decadência, à sombra das ruínas de sua civilização destruída com as guerras. Não é difícil imaginar como esse povo estava propenso à pregação religiosa de Paulo.
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